terça-feira, setembro 13, 2005

A primeira lei de todo o ser é conservar-se, é viver.
Vós semeais cicuta e pretendeis ver amadurecer espigas!
Maquiavel
A iniludível animalidade do Homem
O Monge tem remoído os bizarros comportamentos do Homem, quer na sua individualidade, quer enquanto ser integrado em diversos grupos de pertença. Intriga-se, particularmente, com a sua tendência para sobrevalorizar atitudes egocêntricas, egoístas, em detrimento de valores tão essenciais como o da solidariedade, igualdade, respeito pela diferença, entre outros. Num relance pelos ditames da história, verifica que, ciclicamente, ocorrem períodos de crispação social que, frequentemente, culminam em ruptura social, com todas as desditas que lhes são consequentes. Algo, no Homem, o atrai compulsivamente para tais circunstâncias.
Daí a sua intenção, num exercício, semelhante ao do conhecido filósofo, de fazer tábua rasa dos conceitos e preconceitos que lhe infestam a mente, partindo da seguinte premissa: existo, logo, sou um animal. Chegou este vosso Monge a esta conclusão, dado não encontrar em si características que o incorporassem no reino vegetal, apesar de uma crescente tendência a assumir um estado de apática latência que o afastasse, temporariamente, dos desatinos invernosos que observa, dia após dia.
Ninguém contestará a óbvia natureza animal do Homem. O seu sistema límbico assim o atesta. Como animal que é, está sujeito à ditadura da sua estrutura genética. Esta empurra-o, inexoravelmente, para a luta pela sobrevivência. É nesta ambiência extremamente competitiva que ele se desenvolve e conforma. A sua sobrevivência como indivíduo é orientada para a soberana finalidade da reprodução. Isto significa que, sobrevivendo o indivíduo, sobrevive a espécie.
Por outro lado, o Homem é um animal gregário. Esta característica é uma importante apropriação evolutiva. Sozinho, as probabilidades de sobreviver são diminutas. Por isso, agregando-se, dota-se de maior capacidade de resposta face à impiedosa lei da selecção natural. A sobrevivência de um grupo exige um complexa teia de relações e relacionamentos que assegurem e optimizem o seu funcionamento. Dessa organização faz parte um respeito tácito pela hierarquia, na qual impera também a lei do mais forte. Agregações de indivíduos de acordo com interesses comuns são também frequentes. É um cenário interno da lei da selecção natural, embora de forma controlada, para que o grupo vingue ... e para que os subgrupos vinguem.
Por isso, o Monge não se admira com os destemperos desavergonhados e egoístas que por aí imperam. E consegue desculpar, envergonhado. O pobre do Homem não consegue alijar a carga genética simiesca que reflecte no seu quotidiano. Salvaguardem-se tentativas mais ou menos conseguidas para sublinhar uma perspectiva mais lisonjeira da natureza humana. É um trabalho contra a corrente, cíclico e exaustivo. Uma luta permanente, desgastante, da cada um contra si mesmo, de cada um contra todos, de alguns contra muitos, mas que deveria ser de todos contra todos. Que cada um vá coçar os parasitas da sua consciência social e moral. É um hábito saudável que se recomenda. O Monge pratica-o regularmente. Palavra do Monge.