domingo, novembro 25, 2007

CORPORATIVISMOS

Luiz Pinto - Corpo de Mulher

Outrora chamavam-lhe consciência de classe. E possuir esta consciência era pressuposto para que se estrebuchasse contra as indignidades da existência. E assim se conseguiram resultados. Muitos e bons.



Agora chamam-lhe, intencional e pejorativamente, corporativismo. Este corporativismo é pior que a peste. É maleita social e causa de maleitas. Por isso, deve ser criticado, combatido e erradicado, custe o que custar.



Esta alteração semântica é recente e demonstrativa dos tiques do neoliberalismo. Repare-se no exemplo: antigamente havia destacamentos ou requisições, agora há estruturas de missão. Missão pressupõe algo mais sublime, no entendimento neoliberal e não só, e pressupõe também uma subordinação reverencial a um objectivo, algo muito parecido com a santidade. Desde modo, o neoliberalismo assume-se, pasme-se, como a religião da Nova Era. Uma religião pragmática e material, alérgica ao espírito e à espiritualidade, de que aproveita apenas a terminologia. Contradições...



Os detractores do corporativismo (que palavra chata!) desconhecem, ou fingem desconhecer, que constituem eles próprios unidades dotadas de sentido de corpo. E mal deles se o não forem! E mal nosso que o são! A dinâmica social é feita de equilíbrios e desequilíbrios entre corporativismos. Deste modo, as elites políticas em exercício de poder são elas próprias manifestações de corporativismo. Existe o corporativismo jornalístico, o corporativismo banqueiro, o corporativismo dos economistas e de outros clubes que hipocritamente omitem o seu corporativismo e detractam o dos outros. Contradições...



O problema fundamental reside na instilação intencional de obstáculos à emergência de determinados corporativismos. A proliferação dos contratos individuais, os atentados à contratação colectiva, visam, tão somente, a prevalência de corporativismos dominantes e socialmente letais, em termos de coesão.





Deixemo-nos de tretas. Corporativismos são como os chapéus, há muitos. E cada um trate muito bem do seu. Para seu próprio bem. Só assim sustentará, na devida proporção, o choque dos corporativismos que se auto-camuflam. Sabem que o são, mas não o assumem publicamente por razões estratégicas. Não é a teoria da conspiração. É a conspiração pura e dura.




Por ora, chega. Tratem do vosso corpo. É saudável, em todas as acepções da palavra.



Palavra do Monge