sexta-feira, março 28, 2008

Camaleões

Eva Regina Silva



Impõe-se, para que mantenha a coerência, que o dito partido socialista, mude nome e sigla. Diria mais, mude o, outrora, bom nome e a, outrora, boa sigla. De facto, tal partido não tem nada de socialista. Nem ideologia, nem militantes, nem acção. Os princípios que norteavam o antigo partido, o do bom nome e o da boa sigla, eram universais. Os antigos militantes eram de boa cepa, forjados nos tempos duros, em que a oposição exigia coragem, ética e carácter. Os de agora prezam pelo seguidismo, pelo carreirismo, pelo desapego a princípios norteadores sem idade. São amorfos, não têm referências e, por conseguinte, perfilham a inércia. A acção do partido é tão neoliberal, que desarmou os parceiros neoliberais assumidos, mergulhando-os em crises sem memória. Mediante um perverso efeito colateral, descaracterizou o dito, conduzindo a uma espécie de orfandade política daqueles que, tradicionalmente e em saudosos tempos, se reviam nele.



Esta opção consciente pelo neoliberalismo mereceu o aplauso de pessoas sem pergaminhos socialistas. Diz-me quem te apoia, dir-te-ei quem és.Leonor Beleza é um desses casos. Os intragáveis Emídio Rangel e Sousa Tavares, idem, idem, aspas, aspas... E muitos outros, cujo apoio só deslustra aquele que o recebe. E as pessoas vão-se afastando, pelas mais sábias e profiláticas razões. E logo esta da neoliberalicite, que é doença ruim, difícil de tratar e, mais ainda, de erradicar.

Por cá, o Monge optou pelo fato espacial, hermético, à prova de som e de imagem. Pode ser que se safe.

Palavra do Monge

segunda-feira, março 10, 2008








O AVESSO DO AVESSO






Pois é. Isabel Stilwell e Eduardo Sá não querem apenas virar os dias do avesso. São mais profundos e ambiciosos. Decidiram mudar o Mundo do avesso. Diria mais, acham-se com saber e competência para virar a Educação do avesso. E ao fazê-lo, em vez de abrirem sentidos e mente a uma realidade que, obviamente, desconhecem, partem de uma ignorância sombriamente confrangedora para tecer opiniões, leviana e mansamente, em ambiente típico e relaxante de marquesa, sobre um processo crítico, atamancado, injusto e marcadamente contestado, de avaliação dos docentes.


Afirmações de Eduardo Sá são preocupantes. Parece que os professores ainda não saíram do modelo de escola de 75, terá dito. Evidentemente, o Monge, que na altura conduzia, colocou mais uma vez em causa a sua segurança e a dos outros, pois descarregou sobre o volante a sua bilís, ultimamente muito sobrecarregada com descargas inusitadas. Isabel Stilwell, uma oitava abaixo, mas em parceria harmónica com o interlocutor, acenava afirmativamente ao microfone.


Vejamos. Psicológica ou psicanaliticamente falando, que terá um mediático psicólogo, com acesso privilegiado a um meio de comunicação de massas, contra a escola de 75? Que idade teria na altura? O Monge tinha 17 anos. Eduardo Sá parece mais novo. Que vivências de 75 lhe foram tão traumáticas? A massificação do ensino, contrariando a triagem de uma educação para elites? A gestão democrática das escolas, em oposição à autocracia de um órgão unipessoal? Será que a sua origem radicava nas elites referidas e ele foi influenciado pela sua ambiência político-cultural característica? Ou procede de um estrato social ao momento menos interveniente? Não sei. Só sei que Eduardo Sá culminou com assinalável êxito o seu percurso académico. Provavelmente em escolas de 75.


Outra coisa bule com as meninges do Monge. É espantosa a ignorância que, mesmo especialistas renomados, evidenciam, quando falam sobre educação e professores. É um sintoma de um alheamento preocupante, durante demasiado tempo. Qualquer avaliação é um processo crítico, que merece imenso cuidado na ponderação de todos os factores que nele intervêm. O Monge está-se nas tintas se no privado a fazem sem a necessária ponderação. O privado não é um exemplo de virtudes e muito menos de justiça. Também se está nas tintas se na Finlândia a fazem desta ou daquela maneira. Só sabe que, numa reportagem sobre a temática, tapou os ouvidos e viu. Viu turmas reduzidas, mobiliário acolhedor e adaptado, apoio individualizado, material de outra galáxia. Enfim, investimento a sério.


Se, por acaso, sabe-se lá devido a que conscientes, subconscientes ou inconscientes razões, Eduardo Sá tem algo contra a escola de 75, o Monge também compreende que tenha sofrido um súbito apagão, uma branca de todo o tamanho, ao descurar os sintomas da recente invasão da nossa ilustre capital. Esses sintomas emergem de um profundo descontentamento e muita desilusão. Um psicólogo de topo deveria saber ler o que já não são entrelinhas, mas evidências.


Será que Eduardo Sá quererá pôr em causa a quase totalidade da opinião dos docentes deste recanto? Não é muito racional e é muito, muito, parcial. Ou será que pensará que, por infinitésimo acaso probabilístico, quase todos os professores são comunistas. Deste modo, compreende-se o 75. E talvez a tendência consciente, subconsciente ou inconsciente do retorno a 74.


Um conselho à navegação: erradiquem este hábito perverso de se pronunciar sobre tudo e todos, sem conhecimento sustentável. Abaixo a opinião. Acima a análise aprofundada, multidisplinar e imparcial dos factos, fenómenos ou processos educativos. Abaixo esta sombria e pouco dignificante sobreutilização do preconceito como metodologia de análise da factualidade social.


Pessoalmente, 75 não me causa comichão de maior. 2008 enche-me de urticária.


Palavra do Monge

sexta-feira, março 07, 2008


PELA RUA DA AMARGURA

Justice and the Light of Truth

Bassman






Os governantes sábios da antiguidade eram suficientemente sábios para duvidar das justeza ou eficiência das suas próprias decisões. Procuravam no espelho social o reflexo das suas políticas. Aferiam as opiniões na rua, no meio do povo. Nunca desdenharam deste sistema infalível de se auto-avaliar. O mérito ou o demérito, a excelência ou a falência das suas acções, eram sentidos no fervilhar da populaça, no agitar convulso do quotidiano. E da objectividade dessa aferição dependia a sua sobrevivência política. Eram sábios, porque humildes. Eram bons porque se colocavam em dúvida permanente.



O futuro era a sua grande incógnita. A sua previsão uma das suas maiores preocupações. Daí a preponderância das arúspices que, à falta de melhor, esventravam aves em prol do serviço público. Pode parecer tosco ou rude este processo milenar. No entanto, os subtis e apurados sucedâneos contemporâneos não se comportam a maior altura. É tudo uma questão de fezes.



De qualquer forma, assume-se que governante prevenido procura os sinais certos, no tempo certo e no lugar certo. Assume-se também que, se o faz, é para reformular más práticas, porque disso depende a persistência do seu precioso pescoço político. E, por consequência, algum bem para o Zé Povo.



Pois. Estes governantes são desgovernados. Tão cegos, tão surdos, mas uns cotovelos falantes. As suas acções não convenceram. As suas algaraviadas banalizaram-se, o que significa que viraram conversa de pássaro, um assobio que já não merece sequer um voltar de cabeça, a curiosidade de um olhar surpreendido.



A persistência pode ser uma virtude. A teimosia é, indubitavelmente, um defeito. A cegueira política é necessariamente um crime. A arrogância um pecado. O suicídio um pecado mortal.


Pois é, Senhora Ministra, Senhor Primeiro Ministro, Secretários e Subscretários de Estado, Jograis e Engraxadores do Reino, Peças Amorfas do Aparelho, Damas e Cavalheiros, os sinais estão aí. Naquele inexorável e tão temido lugar. Na rua.




A avaliação não admite exclusões. Os avaliadores, agora, são muitos. Daí a legitimidade do seu último e único parecer: um definitivo, uníssono e ruidoso chumbo.




Sinto muito.



Palavra do Monge