quarta-feira, junho 11, 2008

NINGUÉM SE IMPRESSIONA

Hadleigh Castle
De Constable



Este nosso singular torrão, detém uma particularíssima singularidade, passem as sucessivas redundâncias. Tem um primeiro ministro nada impressionável. Quer isto dizer que não reage a impressões ou a pressões. Tendo em conta que a nossa competitividade, nos heréticos termos tão em voga, constitui condição de êxito, mérito e excelência (passem as sucessivas redundâncias) e que essa competitividade depende da presteza e adequação da reacção a pressões e impressões, afere-se, de forma lapalissiana, que o nosso primeiro não é capaz. Mais grave ainda, será o facto de que este incapacidade de ser impressionável está a colocar o dito torrão de pantanas. A Causa Pública, o poder de exercício do Estado, foi dolosamente afectado por arrogantes decisões, genericamente más, por algumas omissões e por apregoadas reformas, atabalhoadamente implementadas, que se assumiram como factores geradores de injustiças, rupturas e instabilidade social. É preferível uma não reforma a uma má reforma. A História está prenhe de exemplos, que nunca são tidos em conta por pessoas não impressionáveis. Daí o infernal ciclo de crises delatadas pela dita História.


Sendo assim, o nosso primeiro não difere nada dos senhorios do poder, qualquer que seja a sua natureza, mas que confluem sempre no poder económico. Toda esta peculiar e restrita elite tem algo em comum: não é impressionável.


Não é impressionável pelos números da rua, incapacidade matemática aguda; não é impressionável pelos indicadores do desemprego; não é impressionável pela precariedade galopante; não é impressionável pela quebra a pique do poder de compra; não é impressionável pelos estigmas bem visíveis de pobreza; não é impressionável pela segregação social crescente; não é impressionável pelo fosso abissal entre ricos e pobres... Bom, passem as redundâncias.


Digamos que a postura desta governança não é postura de Estado, mas do não Estado, tendente para Estado zero. Estranho paradoxo! Numa altura em que as pessoas impressionáveis antevêem como conjuntura de crise, a pessoa nada impressionável do nosso primeiro implementa as auto-proclamadas reformas inevitáveis, que adicionam mais crise à crise. Nada impressionante.


Ah! Acrescentemos ainda que a impressionante teologia do capitalismo neo-liberal não impressionável falhou, à semelhança da outra teologia que outrora vingou do outro lado do muro. Antigamente dizia-se, com alguma sageza, que os extremos tocam-se.


Ah! E não se impressionem com as filas para os combustíveis. O Monge convida-vos a tomar o lugar de espectadores neste sedutor início de milénio. Mas não se impressionem. Isso nunca, jamais, em tempo algum. Passem as redundâncias. Também as históricas...


Palavra do Monge.