quarta-feira, novembro 30, 2005

ERGUE-TE E SORRI

Quando o mundo em redor
Desaba em cruas trevas
Escuras manchas de dor
Feridas que já não toleras
Ergue-te e sorri.

Quando o sentimento
Parece coisa vã e sem sentido
Fragmento obscuro
De um mundo perdido
Ergue-te e sorri.

Quando aquilo em que acreditas
Farol irradiante e camarada
Parece esboroar-se num nada
Somatório infindo de desditas.
Ergue-te e sorri.

Quando a vontade se te desfalece
Quando um torpor insidioso
Se torna fatal de tão perigoso
Gume acerado que a alma arrefece.
Ergue-te e sorri.

Quando asfixias
Na atmosfera fétida
De um mundo-cão
Que a tudo te diz não
Ergue-te e sorri.

Quando acreditas
Que a ética morreu
Que, num derradeiro suspiro,
Esfíngica, desfaleceu
Ergue-te e sorri.

Afinal tu és o Homem,
Exemplo acabado da Criação,
És uma ode, uma oração,
Uma obra de arte de Suprema Mão.

Protege o teu orgulho,
Realça a obra feita,
E nunca a desdenhes,
Por a achares imperfeita.

Páginas sulcaste
Com maço e escopro,
Na pedra fria
da Vida chamada
Teu nome marcaste
Dia após dia
Jornada a jornada.

Ao olhares o passado
O caminho traçado
Ganha ânimo e parte
Enfrenta, renovado,
O senão do teu fado
Com estilo, com arte
Ergue-te e sorri.

O MONGE

sexta-feira, novembro 18, 2005

A Aprendiz de Feiticeiro

O Monge pasma! Necessariamente este governo está pejado de pessoas com sintomatologia patológica diversificada. Citamos desde já o problema oftalmológico grave classificado como "vistas curtas". Ministros, secretários de estado e restante corte governamental, padecem de uma enfermidade que não lhes permite enxergar para além dos limites estreitos dos seus calafetados e blindados gabinetes. Para além disso, assumem como exclusivo o seu limitado ponto de vista, o que constitui uma manifestação extrema e perigosa de um ego exacerbado.
Poderíamos supor que, como alternativa, esta estreiteza de horizontes seria compensada por um acréscimo de mobilidade que lhes permitisse o contacto próximo com a realidade de intervenção. Mas não, os nossos governantes sofrem, neste aspecto, de manifesta incapacidade motriz, a qual se restringe à autonomia das suas acolchoadas cadeiras de executivos. Como se isto não bastasse, padecem de uma espécie peculiar de autismo, que cerceia a sua capacidade de diálogo e interacção com o exterior.
Isso não lhes permite ver os sinais. Os sinais, cada vez mais nítidos, de uma sociedade crispada e revolta. Voluntária ou involuntariamente constituem fonte evidente de um sem número de conflitos. E uma sociedade em conflito não produz, não cresce, não se desenvolve. Os governantes não devem ser o pólo do conflito, mas o instrumento da sua resolução.
Os sintomas atrás aludidos estão patentes na actuação da Ministra da Educação. Mostra um desconhecimento comprometedor do funcionamento do sistema educativo. Hostiliza intencionalmente os princípais artífices do acto educativo - os docentes. Não mobiliza vontades, desmotiva e exaspera. Semeia ventos e vai colher tempestades.
A manobra ignóbil de apresentar um denominado estudo do absentismo docente no próprio dia da greve é exemplo cru de uma profunda ausência de ética política. É descarada, despudorada e tão evidente que as pessoas desconfiam. Uma tão profunda ausência de escrúpulos vira-se necessariamente contra a aprendiz de feiticeiro. Tais argumentos só convencem quem quer ser convencido. Maquiavel chumbaria necessariamente a sua aluna na arte de fazer política. Seria muito mais subtil na estratégia, muito mais insidioso na acção, mais ponderado nas suas consequências.
Pois bem, senhora Ministra, a sua táctica poderá encontrar eco em cidadãos desprevenidos e menos esclarecidos. Mas esses cidadãos não serão peças-chave na construção de um sistema educativo que se pretende eficaz. Se quer melhorar o sistema educativo terá que ter os professores do seu lado e eles já estão definitivamente do outro lado da barricada. Há erros irreversíveis. Ao lançar o descrédito sobre os docentes, descredibiliza o sistema educativo. Um governante idóneo, bem intencionado e com sentido de Estado nunca cometeria tal erro. Penitencie-se, senhora Ministra. Retracte-se das injustiças cometidas. O Acto de Contrição deve ser longo e o uso do cilício recomenda-se. Para que em cada minuto se lembre da ponderação, da honestidade, do diálogo e do bom senso. Palavra do Monge.