quarta-feira, julho 25, 2007

The Past and the Future
EDWARD TABACHNIK



A TECNOLOGIA DO DESEMPREGO


Foi após uma daquelas visitas corriqueiras que acabamos por fazer a um qualquer antro de consumo, vulgo grande superfície, que levei uma daquelas ensaboadelas que se incrustam na memória de modo tão definitivo que incomodam. Talvez a sua permanência se deva ao desprazer que provocam e a uma má consciência que nos indispõe .




Sei, de antemão, que a curiosidade pode matar. Ou, se não mata, fere. Prometi a mim mesmo, como em muitas outras vezes, que não iria gastar peva. Só tencionava tomar um daqueles banhos de consumismo de forma completamente gratuita. Entraria e sairia de mãos nos bolsos e de carteira impoluta, depois de saciada a minha curiosidade e de satisfeita a minha pulsão materialista.




Acabei seduzido junto a um caixote de filmes descompostos de tão remexidos. E, como não sou mais nem menos que os outros primatas remexedores, remexi também. Esquecendo o insistente grilar do meu grilo consciente e a minha intenção inicial, peguei em dois dos produtos e dirigi-me a uma das caixas, a que me parecia mais acessível.





Sou bruscamente interrompido pelo apelo de uma funcionária que me esclarecia:




- Por aí não! Por aqui, se faz favor.




No atordoamento que me é característico, sempre que frequento um destes locais, lá pensei que tinha mais uma vez metido a pata na poça, e que não tinha cumprido um dos rituais de pagamento necessários, que envolvem filas, prioridades, paciência a rodos, saber lidar com maquinetas de alto padrão tecnológico e aplicar procedimentos esquisitos em sequência.




E pronto, lá fui confrontado com uma maquineta ainda mais topo de gama, obedecendo sem reacção a uma série de instruções que me iam sendo dadas: meta as embalagens aqui, pouse acolá, carregue com o dedo aqui, meta o cartão acolá, retire o recibo ali. Vá-se embora e muito boa tarde. Da próxima vez já sabe como é.




Olhei, estonteado, em redor e apercebi-me do olhar reprovador dos circunstantes, disciplinadamente aguardando na fila de onde eu tinha saído, esperando a sua vez de lidar com a máquina de não tão alto padrão tecnológico e com a simpatia, paciência e o sorriso da funcionária da caixa.




Aquela experiência marcou-me e relatei-a a um conhecido, residente numa das nossas principais urbes que, exasperado, me disse:




- Então você não tem vergonha. Na minha terra há dessas máquinas há montes de tempo. Também me convidaram e eu recusei-me a usar aquela porcaria. E grande parte das pessoas procede como eu. Tenha vergonha. Uma máquina daquelas sonega emprego a uma data de gente!




E eu, encabulado, enfiei silenciosamente a carapuça e , estrategicamente, mudei de assunto e de lugar, assobiando, em surdina,a Internacional de boa memória...




Palavra do Monge