quarta-feira, fevereiro 15, 2006






BOM SENSO E PRECONCEITO


O monge constata com preocupação que este mundo é de loucos. Melhor dizendo, este mundo é dos loucos. Necessariamente, quer do lado das ditas e reditas consumadas democracias, quer do lado das presumidas teocracias, emergem os mesmos sintomas de demência crónica e progressiva. No entender do Monge, ascenderam ao poder pessoas que a ele não deveriam ascender. No mundo ocidental, profundamente influenciado pela cultura anglo-saxónica, tal situação é estranha e dificilmente compreensível. Pois que é feito da democracia, do direito de livre escolha e da responsabilidade que lhe está inerente? Teoricamente, deveriam ser escolhidos os melhores, os mais aptos, os mais capazes para conduzir os nossos destinos. No entanto, errámos indesculpavelmente. A nossa consciência crítica esboroou-se perante a demagogia, o populismo, carreados por uma comunicação social desprovida de consciência ética e de responsabilidade política e social. Por uma comunicação social infiltrada pelo corrosivo poder económico. Por feitores de opinião ao serviço de inconfessáveis interesses que não são públicos e, por isso, não pugnam pelo interesse colectivo. Por isso estamos orfãos, orfãos de pessoas credíveis, impolutas, de perfis devidamente alicerçados na tolerância, na ponderação, no bom senso. Qualidades que permitem dizer não, quando a maioria diz sim. Qualidades que recomendam diálogo, quando as palavras se tornam lâminas letais. Qualidades que edificam a tolerância, quando cruzadas e guerras santas são propagandeadas.
A comunicação social está em fanicos, descredibilizou-se. À boa imagem de um capitalismo selvagem, sem peias, em que a usura se espraia irremediavelmente, pegajosa, oleosa como o crude, vive obcecada pelos shares das vendas, das audiências, mandando às malvas os filtros deontológicos. Uiva clamando pela liberdade de expressão, arredada das profundas responsabilidades que lhe estão subjacentes. Contende fragorosamente com outros direitos humanos, que subalterniza.
E aí temos a tão indesejada contenda civilizacional. Esta escalada de intolerância, alimentada por actos impensados de gente com grande visibilidade mediática, que destrói todo um percurso ecuménico de luta pela paz, dura e prolongadamente erigido, vai transformar-se num disputa olho por olho, dente por dente, num esboroar de esperanças por um mundo mais fraterno, no respeito pelas diferenças e pela mais valia que dessas diferenças necessariamente emerge.
Pessoas de bom senso precisam-se. Devem assumir o protagonismo neste tempo de crise, em que cada acto, cada palavra, devem ser maduramente pensados.
O preconceito deve ser, numa perspectiva metodológica, recolocado nos sotãos da nossa consciência colectiva, sem bolas de naftalina, a esmiuçar-se em pó. O extremismo deverá ser considerado postura não grata, o diálogo intercultural preservado e alimentado.
E que se calem os discursos virulentos, tresandando a mofo e de ideias curtas, de comentadores e políticos desclassificados. Que se transfigurem definitivamente em personagens de comédia de um qualquer cinema mudo. Talvez assim possamos esboçar um ligeiro sorriso ou até largar uma incontida gargalhada.
Palavra do Monge.

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