Autor Desconhecido
Ao princípio era simples: a crise era apenas um boato, longínquo, desvanecido. O nosso país, na torrencial verborreia desta peculiar saga de governantes, estava vacinado, imune às suas funestas consequências, graças a esticões atempados e a preceito no cinto dos funcionários públicos e trabalhadores em geral.
Sorrateira, dengosa, com apurado sentido predador, a crise rondou e atacou, fulminantemente. Parceiros de peso foram desabando, uns após outros, mas Portugal, inabalável, exibia a sua carapaça inatacável, segundo a escorreita verborreia dos nossos singulares governantes.
Súbita e inesperadamente a carapaça cedeu. A crise instalou-se sem apelo nem agravo. O descalabro financeiro, a patologia do desemprego, as falências em catadupa acumularam-se.
Mas a culpa é, indiscutivelmente, da crise. É a verborreia rotinada dos nossos palavrosos governantes que o afirma. A crise é intangível, imprevisível, definitivamente externa.
Deixemo-nos de tretas. Não somos palermas. Somos crescidos e amadurecidos nestas coisas da política. Crestámos consciências nas nossas opções políticas recentes. Ficaram cicatrizes e desconfio que gangrena também.
Sabemos muito bem que estes governantes e os anteriores têm perfil de criadores de crises. Esta crise antes de o ser já o era. Conscientemente, esta governança alinhou decisões, num plágio indecoroso, pelos ventos neoliberais que se insinuaram mundo ocidental fora.
Esse temporal reduziu direitos, as tais regalias, na redita verborreia, reduziu poder de compra, precarizou empregos, gerou desempregos, dissolveu expectativas, disseminou insegurança, proclamou flexibilidades de uma só via.
Encolheu o Estado. Congelou admissões na função pública. Encerrou escolas, maternidades, centros de saúde, numa sanha destruidora implacável. Destruiu projectos de futuro, carreiras, sonhos de jovens sôfregos de autonomia. Condicionou projectos de famílias, destruiu outras, sem manifestações visíveis de remorso ou de má consciência.
Criou guetos. Segregou sectores desfavorecidos. Estimulou a criminalidade e a violência. Desenraizou forçadamente crianças do seu acolhedor meio materno. Incrementou a desertificação do interior. Estigmatizou sectores fragilizados com o peso da solidão.
Estes governantes que pululam nos media, hora a hora, dia a dia, pretendem lavar as mãos, institucionalizar a impunidade. Em vão.
A crise, esta crise, não é filha de pais incógnitos, não é orfã de pai nem de mãe. Os seus progenitores querem varrer responsabilidades. Em vão.
Esta crise tem pai e mãe. Aqui e agora o Monge assim o atesta. O pai é este governo desvergonhado e a mãe a seita parlamentar que lhe presta vassalagem.
Palavra do Monge