sexta-feira, setembro 15, 2006


pas de deux
CHristian Kruger


CAPRICHOS
O Monge não podia deixar de apreciar a caprichosa afirmação de Marques Mendes, salvo erro, relativamente a uma obscura parceria para um dito pacto de regime relativamente à reforma da Segurança Social. O regime crê-se espartano, pois limita-se a um maquiavélico ressurgimento de um Bloco Central que, de facto, já não é central mas alhinhadinho à dextra. O Monge desconfia, como é seu timbre, de pactos de regime em que os protagonistas são apenas dois partidos. O Monge solidariza-se com os demais partidos com sede parlamentar que, presumivelmente, não serão tidos nem achados na elaboração do Pacto. De facto, um pacto de regime deve ter uma ampla participação para obter legitimidade. Deveria ser divulgado e comentado num cenário de participação e transparência democráticas. Tal coisa não aconteceu, como se sabe, naqueloutro pacto, o da Reforma da Justiça. Tudo nele foi cozinhado, temperado e recheado em ambiente de alcova, a bom recato da opinião pública. Muito pouco democrático, embora reconheçamos que a democracia foi chão que já deu uvas e que, presentemente, não vai mais além de uma palavra vã, muito útil para discursos e práticas demagógicas de credibilidade nula.
Pois a saborosa afirmação, que citamos de cor, foi a seguinte:... que Sócrates não se deixe influenciar por "caprichos ideológicos de esquerda". Tal afirmação não é abonatória para o dito Marques Mendes, por vários motivos, a saber:
-Subentende, errónea e descaradamente, que a ideologia é um capricho e, consequentemente, irrelevante na prática política.
-Que Sócrates é caprichoso, consequentemente volúvel na sua postura política, quando, na verdade, é um estratega obstinado e com rumo, infelizmente, claramente definido.
-Que Sócrates é de esquerda. Se tal for verdade, onde posicionaremos geometricamente a direita? Cá está um problema que, garantiremos, será um quebra cabeças para matemáticos credenciados.
-Que Marques Mendes em nada contribuirá para a recuperação da nossa tísica democracia. É do género : tu matas, eu esfolo e fico com os ossos.
Com uma gargalhadita muito amarela e pouco audível, despeço-me por ora. Palavra do Monge.

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