sábado, janeiro 27, 2007

The Tennis Court Oath

A
A


iiii POP UUUUU LAR
A
A
Se te dizem: é progresso,
Se sentes que é retrocesso,
E te moldam feito gesso.
A
Ei man, é interesse público!
Ei mano, é globalização!
A
Se te lixam o futuro,
Se sentes medo no escuro
do outro lado do muro.
A
Ei man, é interesse público!
Ei mano, é civilização!
A
Se o emprego foi às malvas,
Se sentes que não te salvas
e ainda batem palmas.
A
Ei man, é interesse público!
Ei mano, é evolução!
A
Se te querem excedentário,
Sem direito a comentário,
fazendo de ti um otário.
A
Ei man, é interesse público!
Ei mano, é progressão!
A
Se estás farto de Floribella,
Se só dão telenovela,
tirada da mesma gamela.
A
Ei man, é interesse público!
Ei mano, é televisão!
A
Se fingem que são democratas
E vão desfilando gravatas
estigmas de burocratas.
A
Ei man, é interesse público!
Ei mano, é provocação!
A
Se falam em produtividade,
Se sentes a precariedade
sem haver necessidade.
A
Ei man, é interesse público!
Ei mano, é revolução!
A
Se vão maltratando o Estado,
Por o darem por culpado,
sem direito a advogado.
A
Ei man, é interesse público!
Ei mano, é traição!
A
Ei mano, ei man, Amen
A
Palavra do Monge

domingo, janeiro 21, 2007

Excelente, aprovado por unanimidade.

Democracia, como estás?
"A democracia só será possível quando as pessoas participarem a todos os níveis.
A democracia acaba quando cruzas a porta e entras na fábrica ou na empresa.
Aí, manda quem pode."
Vicente Romano
Catedrático de Comunicação Audiovisual, Sevilha
Torna-se óbvio que a democracia actual só o é de nome. A democracia é como aquela planta frágil que requer cuidados regulares. Senão murcha e só fica o esboça da palavra. E o Monge fica condoído com as agressões a que foi sujeita. Pior ainda: acha que se finou. Sentidos pêsames. Mas... como chegámos a tal ponto?
A sobrevivência da democracia depende fundamentalmente da participação e do uso consciente, voluntário e continuado da cidadania. O modelo da democracia representativa passou a deter a exclusividade do sistema de participação na tomada de decisões políticas. Os instrumentos da democracia directa ficaram desde a infância do nosso historial democrático no limbo do esquecimento.
Os partidos seguiram, como está em voga, o modelo empresarial. Agregaram-se em cartel, subjugaram as outras possibilidades de participação e abafaram a concorrência. Infiltraram-se nos vários centros de poder e monopolizaram-no. O cidadão individual não tem participação significativa na tomada de decisão, a não ser na farsa eleitoral. E depois apanha com o tsunami das consequências da sua ingenuidade.
Por sua vez, os partidos foram infiltrados pelo poder económico. De forma que, de facto, é ele que realmente reina a seu belprazer. Ministros, acessores e restante elitista família são recrutados nas esferas empresarial e financeira e transportam para o sector estatal posturas, valores e mentalidades não consentâneas com a prossecução do bem comum. Depois retornam ao saudoso berço com a consciência de não terem defraudado os seus donos nem os seus particularíssimos interesses.
Resta, talvez, a emergência alternativa de movimentos cívicos despidos de conotações partidárias, unidos por um sistema de valores e intenções, de forma a reforçar a participação e adquirir poder de intervenção político-social.
Impõe-se, ainda, a constituição de estruturas de circulação da informação e da comunicação, em oposição a uma comunicação social descredibilizada e de pouca confiança. A sua finalidade é, indubitavelmente, conformar opiniões e restringir o espírito crítico e a liberdade de pensamento. Formatar aquilo que Vicente Romano designa como "mentalidade submissa".
Vem a talhe de foice, outra citação do mesmo catedrático de Comunicação Audiovisual, que apoia a reflexão que se impôe sobre o estado de saúde das ditas sociedades democráticas:
" O que é a esquerda, onde está? Em Espanha, temos um governo que se diz de esquerda, mas os bancos nunca ganharam tanto dinheiro. Para maior sarcasmo, o PSOE ainda se chama socialista e dos trabalhadores."
O monge já viu e ouviu isto em qualquer lado. A nomenclatura dos partidos, no seguimento das tão apregoadas reformas, deveria ser alterada. PS deveria ser exclusivamente dedicado ao post scriptum clássico. Evitar-se-iam tantas confusões! E Social Democrata é uma expressão definitivamente frouxa e despropositada.
E o Monge termina, com uma proposta de reflexão, novamente uma citação do esclarecido docente:
"Se executarmos acções sem conhecer as suas causas, condições ou efeitos, passamos a ser causa, condição e efeito das acções dos outros."
Escalpelizem a vossa mentalidade. Depois, ajam em conformidade.
Palavra do Monge

quarta-feira, janeiro 03, 2007

A TERRA DO NUNCA, JAMAIS, EM TEMPO ALGUM

Era uma vez um país pequenino, voltado de costas para a Europa, pois sempre esteve de costas voltadas para Espanha. Era um país encarcerado, periférico, esquecido. Até que, num golpe de asa, aspirando a melhor sorte, abriu sendas no mar. E foi grande sem saber sê-lo. E quis continuar grande, mesmo enquanto aguardava, estaticamente, por um Messias sebastiânico, vindo da bruma.

Mais tarde houve quem lhe chamasse, vamos lá saber porquê, uma República das Bananas. E em República das Bananas estávamos quando um soberano ministro transformou aquele país pequenino, agora subservientemente voltado para a Europa, numa Terra do Nunca. Numa Terra do Nunca, Jamais, em Tempo Algum.

Este nunca, jamais, em tempo algum, é tão absurdo como aqueloutro sempre, eternamente, em qualquer tempo. Retrata uma postura arrogante, prepotente, arrastando implicitamente uma visão narcísica absolutista. Enfim, reflecte uma política em que o unilateralismo é a tónica dominante.

Realisticamente, ao dito soberano ministro caberia, sensatamente, antever que a sua passagem pela governação goza de uma irredutível efemeridade face à perene instituição que ele pretendia alvejar. O ministro passará mas a instituição continuará, quer ele queira quer não. O governante agravou a situação, o mal-estar reinante, ofendeu dignidades, radicalizou posturas. Ao fundamentalismo responde-se, naturalmente, com mais fundamentalismo.

Em momentos de convulsão, estranha o Monge que as pessoas não aprendam com a história que flui na contemporaneidade. Os fundamentalismos são fontes de tensão, causas próximas de conflitos de vária natureza. Coisas a evitar, para bem das gentes deste mundo conturbado. Estamos numa era de governandes cegos e surdos. É pena que não sejam mudos. Ah, bendita humildade!

Palavra do Monge.