Excelente, aprovado por unanimidade.
Democracia, como estás?
"A democracia só será possível quando as pessoas participarem a todos os níveis.
A democracia acaba quando cruzas a porta e entras na fábrica ou na empresa.
Aí, manda quem pode."
Vicente Romano
Catedrático de Comunicação Audiovisual, Sevilha
Torna-se óbvio que a democracia actual só o é de nome. A democracia é como aquela planta frágil que requer cuidados regulares. Senão murcha e só fica o esboça da palavra. E o Monge fica condoído com as agressões a que foi sujeita. Pior ainda: acha que se finou. Sentidos pêsames. Mas... como chegámos a tal ponto?
A sobrevivência da democracia depende fundamentalmente da participação e do uso consciente, voluntário e continuado da cidadania. O modelo da democracia representativa passou a deter a exclusividade do sistema de participação na tomada de decisões políticas. Os instrumentos da democracia directa ficaram desde a infância do nosso historial democrático no limbo do esquecimento.
Os partidos seguiram, como está em voga, o modelo empresarial. Agregaram-se em cartel, subjugaram as outras possibilidades de participação e abafaram a concorrência. Infiltraram-se nos vários centros de poder e monopolizaram-no. O cidadão individual não tem participação significativa na tomada de decisão, a não ser na farsa eleitoral. E depois apanha com o tsunami das consequências da sua ingenuidade.
Por sua vez, os partidos foram infiltrados pelo poder económico. De forma que, de facto, é ele que realmente reina a seu belprazer. Ministros, acessores e restante elitista família são recrutados nas esferas empresarial e financeira e transportam para o sector estatal posturas, valores e mentalidades não consentâneas com a prossecução do bem comum. Depois retornam ao saudoso berço com a consciência de não terem defraudado os seus donos nem os seus particularíssimos interesses.
Resta, talvez, a emergência alternativa de movimentos cívicos despidos de conotações partidárias, unidos por um sistema de valores e intenções, de forma a reforçar a participação e adquirir poder de intervenção político-social.
Impõe-se, ainda, a constituição de estruturas de circulação da informação e da comunicação, em oposição a uma comunicação social descredibilizada e de pouca confiança. A sua finalidade é, indubitavelmente, conformar opiniões e restringir o espírito crítico e a liberdade de pensamento. Formatar aquilo que Vicente Romano designa como "mentalidade submissa".
Vem a talhe de foice, outra citação do mesmo catedrático de Comunicação Audiovisual, que apoia a reflexão que se impôe sobre o estado de saúde das ditas sociedades democráticas:
" O que é a esquerda, onde está? Em Espanha, temos um governo que se diz de esquerda, mas os bancos nunca ganharam tanto dinheiro. Para maior sarcasmo, o PSOE ainda se chama socialista e dos trabalhadores."
O monge já viu e ouviu isto em qualquer lado. A nomenclatura dos partidos, no seguimento das tão apregoadas reformas, deveria ser alterada. PS deveria ser exclusivamente dedicado ao post scriptum clássico. Evitar-se-iam tantas confusões! E Social Democrata é uma expressão definitivamente frouxa e despropositada.
E o Monge termina, com uma proposta de reflexão, novamente uma citação do esclarecido docente:
"Se executarmos acções sem conhecer as suas causas, condições ou efeitos, passamos a ser causa, condição e efeito das acções dos outros."
Escalpelizem a vossa mentalidade. Depois, ajam em conformidade.
Palavra do Monge
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