De Constable
Este nosso singular torrão, detém uma particularíssima singularidade, passem as sucessivas redundâncias. Tem um primeiro ministro nada impressionável. Quer isto dizer que não reage a impressões ou a pressões. Tendo em conta que a nossa competitividade, nos heréticos termos tão em voga, constitui condição de êxito, mérito e excelência (passem as sucessivas redundâncias) e que essa competitividade depende da presteza e adequação da reacção a pressões e impressões, afere-se, de forma lapalissiana, que o nosso primeiro não é capaz. Mais grave ainda, será o facto de que este incapacidade de ser impressionável está a colocar o dito torrão de pantanas. A Causa Pública, o poder de exercício do Estado, foi dolosamente afectado por arrogantes decisões, genericamente más, por algumas omissões e por apregoadas reformas, atabalhoadamente implementadas, que se assumiram como factores geradores de injustiças, rupturas e instabilidade social. É preferível uma não reforma a uma má reforma. A História está prenhe de exemplos, que nunca são tidos em conta por pessoas não impressionáveis. Daí o infernal ciclo de crises delatadas pela dita História.
Sendo assim, o nosso primeiro não difere nada dos senhorios do poder, qualquer que seja a sua natureza, mas que confluem sempre no poder económico. Toda esta peculiar e restrita elite tem algo em comum: não é impressionável.
Não é impressionável pelos números da rua, incapacidade matemática aguda; não é impressionável pelos indicadores do desemprego; não é impressionável pela precariedade galopante; não é impressionável pela quebra a pique do poder de compra; não é impressionável pelos estigmas bem visíveis de pobreza; não é impressionável pela segregação social crescente; não é impressionável pelo fosso abissal entre ricos e pobres... Bom, passem as redundâncias.
Digamos que a postura desta governança não é postura de Estado, mas do não Estado, tendente para Estado zero. Estranho paradoxo! Numa altura em que as pessoas impressionáveis antevêem como conjuntura de crise, a pessoa nada impressionável do nosso primeiro implementa as auto-proclamadas reformas inevitáveis, que adicionam mais crise à crise. Nada impressionante.
Ah! Acrescentemos ainda que a impressionante teologia do capitalismo neo-liberal não impressionável falhou, à semelhança da outra teologia que outrora vingou do outro lado do muro. Antigamente dizia-se, com alguma sageza, que os extremos tocam-se.
Ah! E não se impressionem com as filas para os combustíveis. O Monge convida-vos a tomar o lugar de espectadores neste sedutor início de milénio. Mas não se impressionem. Isso nunca, jamais, em tempo algum. Passem as redundâncias. Também as históricas...
Palavra do Monge.
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