quarta-feira, novembro 30, 2005

ERGUE-TE E SORRI

Quando o mundo em redor
Desaba em cruas trevas
Escuras manchas de dor
Feridas que já não toleras
Ergue-te e sorri.

Quando o sentimento
Parece coisa vã e sem sentido
Fragmento obscuro
De um mundo perdido
Ergue-te e sorri.

Quando aquilo em que acreditas
Farol irradiante e camarada
Parece esboroar-se num nada
Somatório infindo de desditas.
Ergue-te e sorri.

Quando a vontade se te desfalece
Quando um torpor insidioso
Se torna fatal de tão perigoso
Gume acerado que a alma arrefece.
Ergue-te e sorri.

Quando asfixias
Na atmosfera fétida
De um mundo-cão
Que a tudo te diz não
Ergue-te e sorri.

Quando acreditas
Que a ética morreu
Que, num derradeiro suspiro,
Esfíngica, desfaleceu
Ergue-te e sorri.

Afinal tu és o Homem,
Exemplo acabado da Criação,
És uma ode, uma oração,
Uma obra de arte de Suprema Mão.

Protege o teu orgulho,
Realça a obra feita,
E nunca a desdenhes,
Por a achares imperfeita.

Páginas sulcaste
Com maço e escopro,
Na pedra fria
da Vida chamada
Teu nome marcaste
Dia após dia
Jornada a jornada.

Ao olhares o passado
O caminho traçado
Ganha ânimo e parte
Enfrenta, renovado,
O senão do teu fado
Com estilo, com arte
Ergue-te e sorri.

O MONGE

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