sexta-feira, novembro 18, 2005

A Aprendiz de Feiticeiro

O Monge pasma! Necessariamente este governo está pejado de pessoas com sintomatologia patológica diversificada. Citamos desde já o problema oftalmológico grave classificado como "vistas curtas". Ministros, secretários de estado e restante corte governamental, padecem de uma enfermidade que não lhes permite enxergar para além dos limites estreitos dos seus calafetados e blindados gabinetes. Para além disso, assumem como exclusivo o seu limitado ponto de vista, o que constitui uma manifestação extrema e perigosa de um ego exacerbado.
Poderíamos supor que, como alternativa, esta estreiteza de horizontes seria compensada por um acréscimo de mobilidade que lhes permitisse o contacto próximo com a realidade de intervenção. Mas não, os nossos governantes sofrem, neste aspecto, de manifesta incapacidade motriz, a qual se restringe à autonomia das suas acolchoadas cadeiras de executivos. Como se isto não bastasse, padecem de uma espécie peculiar de autismo, que cerceia a sua capacidade de diálogo e interacção com o exterior.
Isso não lhes permite ver os sinais. Os sinais, cada vez mais nítidos, de uma sociedade crispada e revolta. Voluntária ou involuntariamente constituem fonte evidente de um sem número de conflitos. E uma sociedade em conflito não produz, não cresce, não se desenvolve. Os governantes não devem ser o pólo do conflito, mas o instrumento da sua resolução.
Os sintomas atrás aludidos estão patentes na actuação da Ministra da Educação. Mostra um desconhecimento comprometedor do funcionamento do sistema educativo. Hostiliza intencionalmente os princípais artífices do acto educativo - os docentes. Não mobiliza vontades, desmotiva e exaspera. Semeia ventos e vai colher tempestades.
A manobra ignóbil de apresentar um denominado estudo do absentismo docente no próprio dia da greve é exemplo cru de uma profunda ausência de ética política. É descarada, despudorada e tão evidente que as pessoas desconfiam. Uma tão profunda ausência de escrúpulos vira-se necessariamente contra a aprendiz de feiticeiro. Tais argumentos só convencem quem quer ser convencido. Maquiavel chumbaria necessariamente a sua aluna na arte de fazer política. Seria muito mais subtil na estratégia, muito mais insidioso na acção, mais ponderado nas suas consequências.
Pois bem, senhora Ministra, a sua táctica poderá encontrar eco em cidadãos desprevenidos e menos esclarecidos. Mas esses cidadãos não serão peças-chave na construção de um sistema educativo que se pretende eficaz. Se quer melhorar o sistema educativo terá que ter os professores do seu lado e eles já estão definitivamente do outro lado da barricada. Há erros irreversíveis. Ao lançar o descrédito sobre os docentes, descredibiliza o sistema educativo. Um governante idóneo, bem intencionado e com sentido de Estado nunca cometeria tal erro. Penitencie-se, senhora Ministra. Retracte-se das injustiças cometidas. O Acto de Contrição deve ser longo e o uso do cilício recomenda-se. Para que em cada minuto se lembre da ponderação, da honestidade, do diálogo e do bom senso. Palavra do Monge.

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