Aquele sorriso
O Monge sempre desconfiou daquele sorriso. Não é um sorriso franco, aberto, leal. É mais um esgar, uma necessidade amarelada, talvez o espelhar de uma superioridade auto assumida mas que, assim o sendo, talvez atinja foros de patologia. Estou a falar do senhor Vitorino e do seu eterno sorriso. São inseparáveis. Para onde vai um, vai o outro. Mas são dispensáveis. Tanto se passa sem um como sem o outro. Melhor ainda, todos seriamos bem mais felizes sem o massacre mediático de um e do outro.
De resto, o sorriso do senhor Vitorino é um espelho de um partido que já o foi mas já não é. É uma frustração, uma traição, um desaforo, o esfrangalhar de esperanças acumuladas, uma contaminação, um vírus, a necessidade de uma quarentena. O socialismo esvaiu-se. A força concentrada do sangue de muitos feneceu após súbita e irreversível hemorragia. O partido gangrenou, descaracterizou-se. Ergueu, sob a sua própria lavra, uma barreira entre simpatizantes e militantes. A ideologia morreu.
O governo, emanência natural do partido, atenta sôfrega e repetidamente contra o Estado, ao qual pertence e que devia preservar. Intencionalmente e com uma descarada má fé, vai retalhando com requintes sádicos a estrutura que contribuiu com sublime eficácia para a redução significativa da mortalidade infantil, para o aumento da esperança de vida, para o apoio e prevenção da doença. O mesmo faz com um sistema educativo que aguentou, mau grado iniciativas avulsas e desajustadas de consecutivos governos, com a massificação do ensino, sem correspondente aumento de recursos. E tudo graças à abnegada e anónima acção dos professores que agora estão sob fogo cerrado da ministra, dos pais e da sanha oportunista de comentadores sedentos de polémica, que se pronunciam de forma irresponsável e leviana sobre assuntos que não dominam. São as gralhas dos media, entre os quais o Monge inclui um dito Sousa Tavares e um outro Pedro Norton, a par com o dito senhor Vitorino.
Todos têm em comum o pronunciamento nu e cru a desfavor de um dos sindicatos mais representativo dos professores: a Fenprof. Esse pronunciamento indicia um desrespeito inaceitável por estruturas que constituem pilares da democracia e instrumentos contra medidas atentórias de direitos fundamentais dos trabalhadores. Quem diz mal dos sindicatos diz mal dos professores. Quem diz mal dos sindicatos pronuncia-se contra a democracia. Senhor Vitorino, Senhor Norton, senhor Tavares, é óbvio que lançastes a democracia às urtigas. E sem qualquer remoer de consciência.
Duas das relevantes figuras mencionadas pronuncionaram-se sem sombra de dúvida a favor da avaliação dos professores pelos Encarregados de Educação. Uma medida ridícula só explicável pela instrínseca má intenção de quem a toma. Tenho muita pena mas, de facto, os pais não reúnem condições para tal. A grande maioria disvincula-se intencionalmente do acompanhamento dos seus educandos e da participação no processo educativo. O Monge chega a classificar os pais. Deste modo haverá encarregados da não educação e da má educação, qual deles o pior perfil. Mesmo sem querer, coagidos pela pressão de todo um mundo laboral cada vez mais darwinista, os pais vêem-se inapelavelmente afastados da educação dos seus filhos. E, senhor Vitorino e demais pares, a culpa é da sociedade que todos nós ajudámos a criar. Um exemplo de má arquitectura social, a qual a história se encarregará de julgar.
Face a estas agressões, facetas maquiavélicas deste governo de infiltrados, só se esperam reacções na justa medida. E elas ocorrerão naturalmente. É pena, o país merecia melhor mas... é capaz de não haver. Vade retro. Ao que isto chegou! Palavra do Monge.
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