Durer-Cavaleiros do Apocalipse
Livro Branco mais Negro não há
Algo corre mal quando uma pessoa perde a capacidade de se surpreender. É talvez o vazio do desencanto que se apropriou da individualidade. Ou então é a opção sem alternativa por uma indiferença que se torna modo de estar na vida.
É isto que está necessariamente a acontecer, pois não vislumbro reacções a tomadas de posição que penalizam aqueles que já têm a pena do seu lado. Tomadas de posição que constituem retrocessos de vulto relativamente a conquistas sociais suadas, sangradas e choradas.
Apareceu inopinadamente um qualquer Livro Branco, dito das relações laborais, elaborado por uma também dita comissão independente. Desconfio das comissões e ainda mais desconfio quando são designadas por independentes. Preciso de mais sumo. Exijo saber quem são, quem «manda» nelas, quais os critérios de selecção. Preciso de confiar e a desconfiança tornou-se-me um estilo, uma posição de auto-defesa.
As falcatruas, que no referido livro se antevêem, não são nenhuma novidade. De facto, essas malandrices já entraram no nosso dia-a-dia. Não era preciso o Livro para se reconhecer que a propagandeada flexibilidade já é um facto e a segurança uma omissão. São contratos minimalistas. São horas de trabalho extra não contabilizadas. É a mobilidade forçada. É a coacção laboral. É a competitividade malsã. É a segregação de uma estabilidade tida como aberração.
Há só uma coisa que me surpreende. Onde estão os socialistas? Os verdadeiros. Aqueles que acreditaram em causas e que pugnaram por elas. Os que visionavam uma sociedade justa, equilibrada, realmente evoluida. Evaporaram-se, sumiram, vegetam asfixiados pelos vapores sulfúreos dentro das grades autistas de uma qualquer Câmara Parlamentar.
A queda do Muro não desabou apenas sobre comunistas. Abafou socialistas e soltou os ventos apocalípticos vindos de Oeste, mais selvagens que nunca.
Saudações socialistas.
Palavra do Monge
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