segunda-feira, setembro 03, 2007


A MULHER QUE NÂO SORRI


Mary Cassatt - Jenny and Her Child




Aquela mulher nunca sorri. Ou só sorri em privado e para pessoas do seu círculo restrito. A ausência de sorriso é uma doença. Cada vez menos rara. A ausência de sorriso é uma doença contagiosa. Uma ministra que não sorri constrói muros. Muros altos, com arame farpado em cima e com terra de ninguém a circundar.

Uma ministra de educação que não sorri é um caso complexo. Por que será que não sorri? Achará o sorriso uma perda de tempo? Entenderá o sorriso como uma brecha por onde se insinuará o indesejado abuso da confiança? Ou cortou relação com uma vida inapelavelmente madrasta? Ou o fardo do cargo que ocupa lhe mina inexoravelmente a empatia? Sei lá...

O caso é que eu também deixei, hoje, dia 3 de Setembro de sorrir. O fardo do cargo que ocupo mina-me inexoravelmente a empatia e a simpatia. O caso é que ,quando olho à minha volta, reparo que os meus colegas deixaram, subita mas simultaneamente, de sorrir. As ordens vêm de cima: sorrir é uma perda de tempo, sorrir é um acto excedentário, portanto descartável.

O caso é que para a semana as crianças depararão com um professor carrancudo, que a vida não está para sorrisos. Lavo daí as minhas mãos... o modelo impõe-se hierarquicamente, através de circulares blindadas, protegidas por arame farpado e de via única.

É pena! É tão bom sorrir! E como é bom ser correspondido por aqueles espontâneos sorrisos de criança, tão profundos e tão verdadeiros. Mas, sinceramente, não me apetece sorrir. Há 10 medidas, exactamente 10, não 9, nem 11, que mo impedem.

O sorriso impôe-se-nos, deste modo, como uma espécie em extinção. Quando os educadores deixam de sorrir, mais tarde ou mais cedo as crianças absorvem-lhe a ausência. Mal andará o mundo quando as crianças deixarem de sorrir.

Palavra do Monge

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