O AVESSO DO AVESSO
Pois é. Isabel Stilwell e Eduardo Sá não querem apenas virar os dias do avesso. São mais profundos e ambiciosos. Decidiram mudar o Mundo do avesso. Diria mais, acham-se com saber e competência para virar a Educação do avesso. E ao fazê-lo, em vez de abrirem sentidos e mente a uma realidade que, obviamente, desconhecem, partem de uma ignorância sombriamente confrangedora para tecer opiniões, leviana e mansamente, em ambiente típico e relaxante de marquesa, sobre um processo crítico, atamancado, injusto e marcadamente contestado, de avaliação dos docentes.
Afirmações de Eduardo Sá são preocupantes. Parece que os professores ainda não saíram do modelo de escola de 75, terá dito. Evidentemente, o Monge, que na altura conduzia, colocou mais uma vez em causa a sua segurança e a dos outros, pois descarregou sobre o volante a sua bilís, ultimamente muito sobrecarregada com descargas inusitadas. Isabel Stilwell, uma oitava abaixo, mas em parceria harmónica com o interlocutor, acenava afirmativamente ao microfone.
Vejamos. Psicológica ou psicanaliticamente falando, que terá um mediático psicólogo, com acesso privilegiado a um meio de comunicação de massas, contra a escola de 75? Que idade teria na altura? O Monge tinha 17 anos. Eduardo Sá parece mais novo. Que vivências de 75 lhe foram tão traumáticas? A massificação do ensino, contrariando a triagem de uma educação para elites? A gestão democrática das escolas, em oposição à autocracia de um órgão unipessoal? Será que a sua origem radicava nas elites referidas e ele foi influenciado pela sua ambiência político-cultural característica? Ou procede de um estrato social ao momento menos interveniente? Não sei. Só sei que Eduardo Sá culminou com assinalável êxito o seu percurso académico. Provavelmente em escolas de 75.
Outra coisa bule com as meninges do Monge. É espantosa a ignorância que, mesmo especialistas renomados, evidenciam, quando falam sobre educação e professores. É um sintoma de um alheamento preocupante, durante demasiado tempo. Qualquer avaliação é um processo crítico, que merece imenso cuidado na ponderação de todos os factores que nele intervêm. O Monge está-se nas tintas se no privado a fazem sem a necessária ponderação. O privado não é um exemplo de virtudes e muito menos de justiça. Também se está nas tintas se na Finlândia a fazem desta ou daquela maneira. Só sabe que, numa reportagem sobre a temática, tapou os ouvidos e viu. Viu turmas reduzidas, mobiliário acolhedor e adaptado, apoio individualizado, material de outra galáxia. Enfim, investimento a sério.
Se, por acaso, sabe-se lá devido a que conscientes, subconscientes ou inconscientes razões, Eduardo Sá tem algo contra a escola de 75, o Monge também compreende que tenha sofrido um súbito apagão, uma branca de todo o tamanho, ao descurar os sintomas da recente invasão da nossa ilustre capital. Esses sintomas emergem de um profundo descontentamento e muita desilusão. Um psicólogo de topo deveria saber ler o que já não são entrelinhas, mas evidências.
Será que Eduardo Sá quererá pôr em causa a quase totalidade da opinião dos docentes deste recanto? Não é muito racional e é muito, muito, parcial. Ou será que pensará que, por infinitésimo acaso probabilístico, quase todos os professores são comunistas. Deste modo, compreende-se o 75. E talvez a tendência consciente, subconsciente ou inconsciente do retorno a 74.
Um conselho à navegação: erradiquem este hábito perverso de se pronunciar sobre tudo e todos, sem conhecimento sustentável. Abaixo a opinião. Acima a análise aprofundada, multidisplinar e imparcial dos factos, fenómenos ou processos educativos. Abaixo esta sombria e pouco dignificante sobreutilização do preconceito como metodologia de análise da factualidade social.
Pessoalmente, 75 não me causa comichão de maior. 2008 enche-me de urticária.
Palavra do Monge