PELA RUA DA AMARGURA
Justice and the Light of Truth
Bassman
Os governantes sábios da antiguidade eram suficientemente sábios para duvidar das justeza ou eficiência das suas próprias decisões. Procuravam no espelho social o reflexo das suas políticas. Aferiam as opiniões na rua, no meio do povo. Nunca desdenharam deste sistema infalível de se auto-avaliar. O mérito ou o demérito, a excelência ou a falência das suas acções, eram sentidos no fervilhar da populaça, no agitar convulso do quotidiano. E da objectividade dessa aferição dependia a sua sobrevivência política. Eram sábios, porque humildes. Eram bons porque se colocavam em dúvida permanente.
O futuro era a sua grande incógnita. A sua previsão uma das suas maiores preocupações. Daí a preponderância das arúspices que, à falta de melhor, esventravam aves em prol do serviço público. Pode parecer tosco ou rude este processo milenar. No entanto, os subtis e apurados sucedâneos contemporâneos não se comportam a maior altura. É tudo uma questão de fezes.
De qualquer forma, assume-se que governante prevenido procura os sinais certos, no tempo certo e no lugar certo. Assume-se também que, se o faz, é para reformular más práticas, porque disso depende a persistência do seu precioso pescoço político. E, por consequência, algum bem para o Zé Povo.
Pois. Estes governantes são desgovernados. Tão cegos, tão surdos, mas uns cotovelos falantes. As suas acções não convenceram. As suas algaraviadas banalizaram-se, o que significa que viraram conversa de pássaro, um assobio que já não merece sequer um voltar de cabeça, a curiosidade de um olhar surpreendido.
A persistência pode ser uma virtude. A teimosia é, indubitavelmente, um defeito. A cegueira política é necessariamente um crime. A arrogância um pecado. O suicídio um pecado mortal.
Pois é, Senhora Ministra, Senhor Primeiro Ministro, Secretários e Subscretários de Estado, Jograis e Engraxadores do Reino, Peças Amorfas do Aparelho, Damas e Cavalheiros, os sinais estão aí. Naquele inexorável e tão temido lugar. Na rua.
A avaliação não admite exclusões. Os avaliadores, agora, são muitos. Daí a legitimidade do seu último e único parecer: um definitivo, uníssono e ruidoso chumbo.
Sinto muito.
Palavra do Monge
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