- Porque não te calas? – impunha asperamente um dos autoproclamados democratas daquela sala em que se pugnara outrora rijamente por valores considerados fundamentais, por ideias profundamente alicerçadas na razão e na convicção da sustentabilidade do bem comum e do interesse público. Eram ideias claras que pressupunham que o bem-estar individual seria corolário da prossecução daquelas metas, por alguns proclamadas de utópicas e, por conseguinte, descartáveis.
- Porque não te calas... calas... calas...? - Insistiam os pares do autoproclamado dito. O som era impressionante, ampliado pela acústica de uma sala predestinada para a oratória. Pretendia ser intimidatório, sustentado na força do número, fundado na emotividade instintiva e subserviente das massas. Pretendia contrariar a proposta inconveniente de um, profundamente balizada na constatação de factos, na visão crítica de uma mudança social destemperada e na força da razão.
- O poder corrompe. O poder degrada. A corrupção dever ser erradicada. A lei é o meio e o processo...
- Porque não te calas? - O histerismo atingia o paroxismo. Por qualquer razão, aquela proposta insana beliscava o íntimo e os interesses de uma maioria. Impunha-se abafar aquela iniciativa desde já, esmagar definitivamente a vontade daquele insolente.
De facto, aquela intenção não passou disso. A corrupção institucionalizou-se. Lá fora, as gentes abanaram cabeças e encolheram ombros. Formularam os já costumados e acumulados juízos de valor extremamente negativos sobre a assembleia que outrora fora do povo. E esperaram pacientemente pelo próximo escrutínio. Seria um ajustar de contas a prazo e à medida.
Palavra do Monge
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