NA BONANÇA
O Monge, sem surpresa, viu confirmados os seus vaticínios acerca dos resultados de uma campanha peculiar. Releu o seu último escrito e foi como se o passado se materializasse aqui e já. Sócrates coabitará mais afavelmente com Cavaco do que coabitaria com Soares. Dizia uma das gralhas da rádio, num dos desaforos costumados, que Sócrates atingiu o seu real objectivo. E que esse objectivo era destruir para reconstruir. O PS, claro. Raciocínio opaco, leviano, como é apanágio das ditas gralhas. Tal afirmação requeriria maior reflexão e comedimento. Pelo absurdo, aceitemos como válida tal inferência. Sócrates arrastaria consigo parte do PS, afirmava a gralha. A sua parte social-democrata. Premissas de sustentação desse raciocínio seriam os factos de Sócrates ter pertencido, num glorioso passado, à juventude social democrata e ao correspondente partido. Mas, afinal, quem é que Sócrates cativaria num tal propósito? O aparelho partidário em exercício efectivo de poder, nas sua complexa rede tentacular. E por quanto tempo o conseguiria? Obviamente, enquanto fosse o rosto desse poder. Um prazo curto de três anos e meio.
Na actual conjuntura, neste interessante cenário pós-eleitoral, o Monge não desdenharia da possibilidade da emergência de um movimento alternativo, mas com fonte diversa: a de Manuel Alegre. Mas não arrisca afirmar a eclosão de um novo partido. Esse movimento deve o seu êxito relativo a dois factores fundamentais:
- O descontentamento indignado de amplas franjas da população face à política discricionária de Sòcrates, ou seja, um segundo e ameaçador cartão amarelo;
- A desilusão em crescendo decorrente de um modelo de prática política que em nada a dignifica.
Se, pouco sensatamente, se pretendesse fomentar a eclosão de uma nova força partidária, o movimento gerado pela candidatura Manuel Alegre perderia toda a sua força geradora inicial e dissolver-se-ia na névoa partidária que pretendeu criticar.
Por isso, o Monge não acredita na alteração do espectro partidário existente. Acredita, isso sim, num sector da população mais activo, vigilante, voluntarioso e com ampla capacidade de intervenção, sufragada e legitimada pelo voto. A bem da democracia, contra a discricionariedade e a injustiça de medidas pouco reflectidas e pouco concertadas.
Que o autismo socrático milagrosamente se esfume. Que o bom senso se insinue nas acções e decisões de quem nos governa. Ah! E que as gralhas migrem. Preferencialmente para o deserto, com bilhete só de ida. Palavra do Monge.
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