quinta-feira, janeiro 12, 2006

O ERRO DE SÓCRATES - INVOLUNTÁRIO OU INTENCIONAL?
Sócrates marcará, indubitavelmente, a história do PS pelos piores motivos. Os inícios auspiciosos, materializavam-se numa maioria absoluta alicerçada na esperança de que se retrocedesse na política que era apanágio dos governos de Barroso e Santana.
Assumiu poderes de governação e, estrondosamente, ousou fazer o que os seus antecessores tinham pensado mas não ousado. Defraudou, sem dó nem piedade, as expectativas daqueles que nele depositaram elevado crédito de confiança.
O povo não perdoa e, nas autárquicas, não hesitou em mostrar um primeiro cartão amarelo retinto ao governo socrático, numa manifestação claríssima de rejeição das medidas implementadas. Sócrates, numa demonstração de autismo suicida, cego e surdo, incapaz de ler nas linhas o que qualquer outro lia nas entrelinhas, manteve o mesmo rumo obstinado.
A sua estratégia relativamente às presidenciais sempre intrigou o Monge. Sem tacto nem diplomacia renegou Alegre e pressionou Soares. Esfrangalhou o PS e fragilizou a esquerda. Colocou Alegre entre a espada e a parede e Alegre renegou a espada e, habilmente, mas sem esforço, contornou a parede. Avançou com uma candidatura muito peculiar que, por não ser suportada por qualquer aparelho partidário, ganhou credibilidade e margem de manobra.
Quanto a Soares, uma referência democrática, recebeu um apoio armadilhado. Aceitando o apoio de Sócrates colou-se ao governo e às suas impopulares medidas. Nâo cativa grande número dos votos do partido nem os da esquerda remanescente. Necessariamente, não cativará os votos do milhão e tal de servidores de estado e seus descendentes ou ascendentes, vítimas da discricionaridade governamental. É obra! Soares merecia melhor.
Praticamente ofereceu, numa bandeja rosa, a presidência a Cavaco. Ofereceu também oportunidade de mais poder a tudo o que se dissimula na sombra de Cavaco. Fundamentalmente, abriu as portas de par em par, numa escala sem precedentes, à intrusão do poder económico e financeiro na política. É a predição do eclipse progressivo, mas total, do sol que Abril abriu.
O monge continua intrigado. Prefigura-se-lhe que Sócrates, não disse mas pensou. Pensou que a sombra de Cavaco será mais acolhedora de que um Soares presidente, eventualmente incómodo, sempre independente e fiel a uma cartilha de princípios socialistas fundamentais, enunciados claramente em várias obras de referência da sua autoria.
Os próximos tempos apresentar-se-ão foscos, turvos e, porventura, turbulentos. À custa de Sócrates, evidentemente.
Palavra do Monge.

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