William-Adolphe Bouguereau
Revolta-te
Na véspera do Dia do Professor, o Monge julga pertinente realçar algumas citações de António Nóvoa, sobre a condição do exercício actual da docência. Para que os professores aliviem um pouco o seu fardo e para que a sociedade e famílias aliviem a inaceitável pressão que exercem sobre docentes e escolas, conducentes a um ambiente hostil, crispado, incompatível com a serenidade indispensável ao acto de educar. Para que se dê azo à reflexão e que se perspectivem as consequências de uma política autocrática, sem sustentação pedagógico-científica. Para que famílias e sociedade assumam definitivamente a sua quota parte de responsabilidades no processo educativo, de forma ponderada, concertada, voluntariamente alheados a pressões externas mal intencionadas.
"... a escola está sufocada, esmagada, por um excesso de missões."
"Atribuiram-se demasiadas missões à escola e esse é um dos seus maiores dramas."
"Tudo com base no princípio despropositado de que a escola tem de ser abrangente, transversal e capaz de dar resposta a todos os problemas familiares e sociais. Isto é um delírio."
"Defendo que as crianças só devem estar na escola durante o tempo estritamente necessário e que este deve ser usado, de forma exigente, rigorosa e eficiente."
"...a escola deve ser a tempo inteiro apenas durante o tempo que é da escola."
"Já considero um erro colossal a concepção de escola a tempo inteiro como espaço dirigido às actividades de entretenimento, recreativas e de guarda de crianças. Estas missões são da responsabilidade das famílias e da sociedade."
"Os pais devem ser chamados a avaliar o trabalho das escolas mas não o desempenho profissional dos professores."
Notícias Magazine, 30 de Julho de 2006
"É verdade que os professores foram co-responsáveis por esse "discurso do excesso". Com a sua conivência alimentou-se um mito que lhes concedia o papel de salvadores e redentores da humanidade. Hoje essas imagens viram-se contra eles e são usadas para responsabilizá-los pela crise da escola."
"Eu creio que os professores podem e devem exigir duas coisas absolutamente essenciais que são:
· Uma, é calma e tranqüilidade para o exercício do seu trabalho, eles precisam estar num ambiente, eles precisam estar rodeados de um ambiente social, precisam estar rodeados de um ambiente comunitário que lhes permita essa calma e essa tranqüilidade para o seu trabalho. Quer dizer, não é possível trabalhar pedagogicamente no meio do ruído, no meio do barulho, no meio da crítica, no meio da insinuação. É absolutamente impossível esse tipo de trabalho. As pessoas têm que assegurar essa calma e essa tranqüilidade.
· E, por outro lado, é essencial ter condições de dignidade profissional. E esta dignidade profissional passa certamente por questões materiais, por questões do salário, passa também por boas questões de formação, e passa por questões de boas carreiras profissionais. Quer dizer, não é possível imaginar que os professores tenham condições para responder a este aumento absolutamente imensurável de missões, de exigências no meio de uma crítica feroz, no meio de situações intoleráveis, de acusação aos professores e às escolas."
Por conseguinte, o Monge extrai algumas conclusões:
No excesso de missões que cada vez mais se atribuem às escolas estará uma das razões do propagandeado insucesso escolar;
Que as recentes medidas educativas irão contribuir para o acréscimo de instabilidade na estrutura educativa e, consequentemente, para o insucesso escolar;
Que as actividades extracurriculares constituem, de facto, uma das missões sem sentido da escola porque visam, prioritariamente, ocupar as crianças face à desvinculação das famílias da sua responsabilidade de educadores;
Que os professores pecaram por aceitação resignada da sobrecarga de funções sucessivamente atribuídas;
Que o ambiente agora criado e gerado pela instituição de tutela só prejudica o funcionamento do sistema educativo e a acção docente;
Que o ataque acérrimo e continuado ao estatuto do docente em nada contribui para restaurar a dignidade profissional, entendida com uma variável essencial à motivação dos docentes e, consequentemente, com repercussão negativa na eficácia da sua acção e no sucesso escolar dos seus alunos.
Pois cá o Monge augura maus momentos para a educação em Portugal em tempos próximos. Mas que se imputem responsabilidades a quem de direito. Professor, faz o teu melhor. Mas insurge-te, revolta-te, dá corpo à tua justa indignação. Ao fim e ao cabo, fazendo-o, estás a contribuir para que não se hipoteque o futuro das próximas gerações.
Palavra do Monge