terça-feira, outubro 17, 2006

Chamas - Anna Paes



CORTEX E P'RÁ FRENTEX
O Simplex era tão simples, tão simples, que ninguém deu por ele. Talvez por isso, a estratégia socrática aposte cegamente no CORTEX. Não se trata de nenhum Plano Tecnológico vanguardista e miraculoso. Acho que ainda ninguém deu por ele. Também não é marca de preservativo. Seria um nome de criar arrepios, mas que seria eficaz e primasse por razões de Excelência, disso não teremos a maior dúvida. E deveria ter sido implementado há quatro ou cinco dezenas de anos e nas pessoas certas. Poupar-nos-ia estas linhas e os actuais arrepios.
O CORTEX é uma estratégia cega, surda e totalmente isenta de criatividade. Implementada e defendida com unhas e dentes por jovens conselheiros com MBA's granjeados no Império do Extremo Ocidente. MBA's que consistem efectivamente numa espécie de lavagem ao cérebro pouco higiénica. Os pobres coitados sujeitos a tais atrocidades têm visão limitada. Só vêem números. Trabalham com médias e percentagens. Estão definitivamente impossibilitados de ver as pessoas, de avaliar empaticamente os seus sentimentos e emoções. Consequentemente, tornam-se perigosos. Perfilham três princípios básicos, publicitados ao desbarato e desavergonhadamente: mobilidade, precariedade e polivalência. A separação do trabalhador da sua família, do seu meio de convivência é um pressuposto inegociável. A ideia de um emprego estável é de bradar aos céus. Um trabalhador deve desempenhar qualquer cargo ou tarefa sem recalcitrar, independentemente do investimento feito na sua qualificação de base.
Portanto, CORTEX nas escolas, nos professores, nos serviços da Administração Pública, na GNR e na PSP, no SNS, nas autarquias locais e nas regiões autónomas, nas maternidades e ainda mais. É a visão tacanha mas terrivelmente definitiva do carrasco.
CORTEX nas banhas do Estado, uma cirurgia inovadora e radical. É combater a obesidade com a anorexia. A estratégia é P'RÁ FRENTEX, alérgica a desvios e surda a sugestões ou contestações.
Os agentes desta estratégia socorrem-se sempre dos mesmos termos, a saber: emagrecimento do Estado, excelência, meritocracia, contenção, rigor e outros vocábulos dissuasores e brutais nos seus subentendidos.
Como são cegos e surdos, os fautores desta estratégia não antevêem a fumaça dos incêndios que provocam. São incendiários inimputáveis. Como não olham para trás, não vêem os destroços da sua acção. Possivelmente, perecerão nas chamas que geraram. Só que talvez seja tarde demais. Para os números que eles manipularam sem pejo, ou seja, os cidadãos sacrificados.
Como vêem, é SIMPLEX.
Palavra do Monge

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