quinta-feira, maio 24, 2007

Mother and Children - Sharon Sayegh



Tiranos de tenra idade




Javier Urras é Primeiro Provedor de Menores na vizinha Espanha. Recentemente, editou uma obra orientada para um problema crucial da sociedade do nosso tempo, que está directamente relacionado com a família e o seu poder regulador sobre as crianças. Em suma, aborda a falência do exercício da autoridade paternal.


O acesso crescente da mulher ao universo laboral, as exigências impostas pela carreira, o decréscimo da importância dos avós nas relações familiares, a redução da natalidade, conduzem a uma peculiaridade: a ausência de exercício ou o mau exercício da autoridade dos pais.


Afirma Urras:


«Sem dúvida, é importante ensinar-lhes (às crianças) o significado do não. Mas há que educá-los em liberdade, há que educá-los para a autonomia e a independência. Há que ensiná-los a trabalhar - na escola e nas tarefas em casa , há que educá-los no respeito por valores como a honestidade, há que puni-los quando os seus actos merecem castigo. Quando dizemos não, esse não tem de ser rotundo - não há apelo nem agravo, não há lugar a negociações, nem sequer a argumentações.»


Considera o mesmo autor que a definição de limites à criança é essencial. Esta regulação na infância é fundamental para a aceitação da autoridade paterna pelo adolescente e assume preponderância quando se verifica que, por contingências socioeconomicas, existe uma tendência para que o jovem quebre mais tardiamente os laços que o ligam ao agregado familiar.


Refere ainda:


«É essencial que os pais saibam transmitir o valor da palavra respeito. (...) É importante que cada um cuide da sua vida, mas também é importante tomar conta de quem cuidou de nós e de quem é importante para nós (...).

Há poucos anos as crianças brincavam com outras crianças, tinham uma rede alargada de conhecimentos (...), participavam em actividades conjuntas(...). Agora, a maior parte das crianças passam a maior parte do tempo sozinhas(...). Para piorar o cenário muitas vezes nem sequer têm irmãos.»


E acrescenta:


«Isso (o não) causa-lhes frustração, é verdade, mas a vida muitas vezes também é frustração. A vida também é o deve ser(...). Tem de haver compromissos. Isso é a vida em sociedade e temos a obrigação de o ensinar às nossas crianças.»


Urras alerta para o que se está a passar em Portugal:


«Aqui há muitos problemas com a falta de autoridade dos professores, a falta de respeito dos alunos pelos professores e, mais grave ainda, a falta de respeito dos pais dos alunos pelos professores dos seus filhos. E isso é gravíssimo.»


Acrescentemos que a razão das afirmações do provedor residem na ocorrência preocupante de fenómenos de violência de filhos contra pais, no país vizinho. Por aqui releva-se a violência sobre professores. Circunstâncias de um tempo dito de mudanças que, mais vezes do que seria expectável, nem sempre são para melhor.


Palavra do Monge

1 comentário:

addiragram disse...

Uma reflexão em total sintonia com o
que se observa na clínica psicológica
e pedopsiquiátrica. Parabéns por ter publicado!