sábado, abril 21, 2007

Picasso



Bons pais, maus pais


Esta sociedade em que, por vezes, vegetamos nunca poderá dar à família a sua real importância em termos educacionais. É estranho que, com tanto aumento de produtividade, com tanta evolução técnica e tecnológica, as comunidades desenvolvidas desvalorizem o social e sobrevalorizem o económico. É uma evolução sem sentido aquela que não contribui para uma boa qualidade de vida ao alcance de todos. A economia, no plano sociológico, deveria ter um valor essencialmente instrumental.


O acesso à aquisição de bens de consumo essenciais ou não, a necessidade de independência económica da mulher, levou ambos os membros do casal a assumirem uma carreira. As exigências que ela lhes impõe em termo de disponibilidade de tempo, de competição e de progressão, conduzem a uma desvalorização do seu papel de educadores. Não têm tempo para serem pais, nem para aprender a sê-lo. As consequências são catastróficas, em termos de desenvolvimento infantil. Citamos Boris Cyrulnik, neurologista prestigiado, mormente pelos seus estudos sobre a resiliência, cujo conceito introduziu:


"...O encontro dos primeiros meses ( com a mãe), vai criar um estilo relacional, uma maneira de amar. Vai dar um certo gosto ao mundo, que em seguida se chamará felicidade ou infelicidade."


Uma das consequências do reconhecimento, consciente ou inconsciente, pelos progenitores, da ausência em momentos chaves do crescimento dos filhos condu-los, numa tentativa de erradicar o sentimento de culpa emergente, à superprotecção. As crianças que se desenvolvem neste ambiente são sôfregas relativamente à satisfação dos seus desejos. Querem que eles sejam supridos no imediato, não aprenderam a retardar a sua satisfação. Vivem o presente, o momento. Não estruturaram a faculdade de antecipar. Sucumbem perante as primeiras adversidades. Tendem à perda precoce da esperança e são alvos fáceis da depressão.


A vivência da angústia desde os primeiros patamares do desenvolvimento infantil é essencial, assim como é essencial a experiência da ajuda. O mesmo especialista afirma que a criança deve sentir o medo, para que estabeleça uma ligação "segura" com os pais. A inexistência daquela emoção não despoleta a relação afectiva com uma determinada figura ou figuras, que se assumiriam como fonte da segurança de que a criança necessita.


Os pais superprotectores estão, de facto, a impedir que a criança construa estruturas de defesa contra a adversidade. Ao bloquearem a vivência do medo e da angústia estão a torná-la intolerante, a condená-la à frustração e a impedi-la de saborear aquele travo, sempre apetecido, da felicidade.


Palavra do Monge

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