A criança aprisionada: um novo paradigma social
Há uma coisa que anda a ruminar na mente do Monge. Há uma constatação que o preocupa e que devia preocupar paizinhos, professores e a todos os que detêm responsabilidades educativas, nomeadamente aqueles que tomam as ditas grandes decisões: os políticos da nossa praça. O termo "ditas" é uma prova da desfaçatez do Monge. De facto, a este nível, não existem pequenas decisões, porque qualquer decisão pode provocar grandes consequências. Pais, políticos e outros intervenientes na educação das nossas criancinhas decidem, agem, mas, por qualquer motivo que nos escapa, não medem as consequências. É o eterno problema da matemática, que não é apenas deste tempo, mas que atinge, de forma endémica, as gerações antecessoras.
Outra prova da desfaçatez do Monge é, se bem repararam, a não inclusão dos professores na enumeração dos não medidores de consequências. Tais seres, os incompreendidos, os silenciados, os estigmatizados do sistema, há muito que compreenderam a problemática, pois dominam a matemática dos afectos, das relações, das motivações, das dores, dos contentamentos das crianças e jovens destes tempos atribulados. Estão na linha da frente, vivem nas trincheiras, pugnam anonimamente, carentes de recursos e de estímulos, pelo futuro das gerações.
O Monge sabe que eles estão preocupados. O Monge sabe que as crianças de hoje são crianças aprisionadas, física e psicológicamente. Matemáticamente, é extremamente provável o encarceramento de uma criança desde os três meses de vida extra uterina. A partir desse momento, a criança passará a maior parte do seu tempo, praticamente enclausurada em creches, jardins, escolas, ATL's. Tudo isto com a franca adesão dos pais. Pais cuja principal característica é a ausência. De tal modo que, matemáticamente falando, quem detém a quase omnipresença junto das crianças de hoje são os ditos seres incompreendidos, a população das trincheiras, os silenciados, os anónimos, em suma: os professores.
O grande dilema da educação contemporânea está aí: poderão os professores, mesmo que armados com o seu saber, a sua dedicação, a sua experiência, substituir os pais, inevitável e definitivamente ausentes. A resposta é imediata: um rotundo não. Uma infância vivida exclusivamente num meio colectivo, dispersa afectividades, perturba a apreensão do real, despoja a criança de momentos privados de fruição e consolidação de afectos, de cognições, de partilha. É uma vida em ruído. E as crianças precisam de momentos de sossego, de serenidade, de paz. A família é esse lugar e aos pais compete essa responsabilidade. E o Monge acusa: os pais ausentes de agora fogem às suas responsabilidades. As consequências da sua ausência em momentos cruciais da vida dos filhos estão a ser marcantes na determinação do perfil do cidadão e na natureza da sociedade. A sua ausência de hoje marcará decisivamente o futuro dos seus. Palavra do Monge.
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