Emergem indícios que estamos perante uma descoberta científica sem paralelo. O Monge perspectiva que Lineu bem gostaria de viver este momento inigualável. Com o seu reconhecido talento, espírito metódico, conhecimento e experiência seria, sem dúvida, contributo de vulto para destrinçar esta ocorrência, que constituirá motivo de aceso debate e de muita e continuada especulação no seio da comunidade científica.
E realmente o caso não é para menos. Estamos perante o despontar de uma nova espécie, ou subespécie, do género Homo. Especialistas em sistemática animal alvitram novas designações, a necessitar daquele consenso que esbata as dissonâncias reinantes.
Uns propõem a designação genérica Homo horribilis, outros, a de Homo economicus (vulgo Economistas). Existem dúvidas em utilizar a classificação trinominal (Homo sapiens horribilis ou Homo sapiens economicus), devido a contradições no seu comportamento em laboratório, quer em situações de observação individual, quer quando integrados no seio do grupo. Das comunicações a muito custo saídas do espartilho da comunidade científica, poderemos depreender que as atitudes e comportamentos analisados carecerão da indispensável coerência e racionalidade que permitam o uso da dita classificação.
Passaremos a adoptar a designação corrente (Economistas), visando poupar o confronto do leitor com a extensão e complexidade da designação científica . Os dados conhecidos a respeito dos Economistas permitem-nos aludir a três características específicas, a saber:
1. Um ego inflacionado, que pode conduzir a atitudes ou comportamentos que sobrevalorizam o seu verdadeiro papel num grupo ou organização;
Nota: Aponta-se como corolário desta constatação o facto de aceitarem, sem rebuço, o epíteto de Notáveis.
2. A auto assunção, geradora de posturas e acções consequentes, de três atributos fundamentais:
- a omnisciência, que lhes permite discorrer sobre qualquer tema ou assunto, sem intervenção da auto consciência, superego ou qualquer tipo de censura interna, que é tida como comum aos outros espécimes;
- a omnipresença, que é a capacidade de saturar os meios de comunicação com as suas intervenções constrangedoras;
- a omnipotência, determinada pela presunção convicta de que são detentores de poder ilimitado. Acrescenta-se que este tipo de patologia é extremamente perigoso, pois pode conduzir a situações de domínio no interior de grupo de pertença, passíveis de causar crispação, convulsão ou mesmo oposição reactiva do tipo agressivo.
3. Uma evidente incapacidade de auto avaliação, impeditiva da análise de actos por si cometidos e da consequente responsabilização individual. Reparemos nos casos, recentemente vindos a público, de três espécimes desta natureza que, assumindo em devido tempo funções relevantes do foro económico em vários governos anteriores, criticam a actual conjuntura económica em termos depreciativos. De facto, estão fisiologicamente incapacitados de reconhecerem a sua participação em actos e decisões conducentes à dita.
4. O emprego obsessivo/compulsivo de terminologia característica, de que se salientam as seguintes expressões:
"Trabalhar mais"; "Diminuição de Pessoal", "Acabar com o emprego vitalício"; "Reduzir prestações"; "Aumentar a idade da reforma"; "Menos benefícios"; "Congelar vencimentos", "Baixar a taxa do IRC".
O Monge não pode deixar de se congratular por esta contribuição imprevista e inusitada para o enriquecimento do Reino Animal. No entanto, recomenda uma vigilância discreta, mas aturada, dos referidos espécimes e das suas acções. A sua reeducação seria estratégia a prosseguir. Para o bem deles e também para o de todo o género Homo. Palavra do Monge.
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