a) A Saga da Casa da Fronteira terá continuação.
b) O Monge passou o dia embebido numa atmosfera pesada, campacta, cor de chumbo. Era uma ambiência surreal. A cidade asfixiava num nevoeiro contrário à sua natureza: não refrescava corpos, mas amolecia ânimos. A cidade estava sujeita a um chuvisco invulgar. Não era a água benfazeja e tão avidamente desejada que tombava. Eram fagulhas esbranquecidas, ainda mornas, assinaturas vivas da calamidade de algures. Notícias pouco frescas de dramas mais ou menos anónimos. Pequeninas pedras pomes em que se transformou o suor de muitos. Esta atmosfera não se respira, corta-se à faca e mastiga-se. É um filme por demais visto. Um suplício implacável e tantas vezes repetido, que gera indiferença. Não devia ser assim.
Parece que as próprias andorinhas, tão infatigáveis no seu eterno afã também se cansaram. Repousam, alinhadas rigorosamente numa varanda vizinha. Ou será que escutam a Chamada, o apelo do Sul. Tão cedo? Necessariamente este país está a perder a hospitalidade, por muitos considerada como imagem de marca.
c) Da Ucrânia vem um testemunho da facilidade com que as leis do capitalismo neoliberal, disseminado pela globalização, são assimiladas por alguns cidadãos dos países de leste. A corrupção entranha-se num ápice e descaradamente no tecido social. Qualquer oportunidade é aproveitada de imediato. Agora são bandeiras, bandeirinhas, camisolas, canecas e outros acessórios, todos laranjinhas, de ex-campanhas de luta político-ideológica que se vendem de forma organizada, por familiares dos detentores do poder. O sucesso deste modelo neoliberal reside na sua coincidência, ponto a ponto, com a natureza mais crua e selvagem do ser humano. Em termos evolutivos, entendidos como desenvolvimento da consciência social do indivíduo, é o descalabro. Assim não vamos lá. O egoismo espalha-se e consome valores fundamentais tão indiferentemente como as línguas de fogo vão consumindo bens. É fácil ser egoista, está nos genes de cada qual. A solidariedade, a tolerância, são facilmente esquecidos, desaparecem do léxico e das práticas. Isso é mau.
d) Uma última referência se impõe. 60 anos após a deflagração da bomba de Hiroxima continuam a morrer inocentes por iniciativa declarada dos senhores da guerra. Necessariamente, o Homem não aprende com os seus erros. A sua memória é curta e a sua vontade volúvel.
Palavras do Monge
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