quinta-feira, dezembro 25, 2008

segunda-feira, dezembro 15, 2008

É Urgente Reconstruir

Dicas para um trabalho de reconstrução social, de resposta à crise originada pela deriva à direita de má memória.
"1º-Reconhecimento da centralidade do papel do Estado. O termo 'Estado estratega' foi já utilizado para caracterizar o que agora, mais do que nunca é necessário: um Estado que em nome de prioridades públicas reassume o controlo de sectores estratégicos, se responsabiliza pela provisão de serviços públicos e pela gestão do território, e que utiliza os meios de que dispõe para incentivar e orientar o investimento privado. Entre nós é urgente compreender que a redução dos défices e das dependências externas, que efectivamente crescem a taxas alarmantes, depende de uma reorientação do investimento privado dos sectores abrigados da concorrência internacional, para a produção de bens transaccionáveis, exportáveis e capazes de substituir importações. Em Portugal é preciso contrariar a livre circulação de pessoas, bens e capitais entre o público e o privado; é preciso separar serviço público de negócio privado.
2º-Valorização do serviço público. “O nosso País não está condenado a escolher entre serviços decadentes e burocratizados, de um lado, e a erosão do Estado conduzida segundo a ideologia gestionária da modernização, do outro”, disse Jorge Bateira. Existem outras modernizações possíveis que respeitem os funcionários do Estado e os vejam como pessoas que podem e querem valorizar-se e ser actores de mudança. Reformas que começam por ouvir aqueles que são os rostos da Administração Pública e os cidadãos. Modernizações que, sem reduzir os servidores do Estado à condição de oportunistas e egoístas, nutram os valores característicos da ética de serviço público.
3º-Combate à desigualdade pela valorização do trabalho. A provisão pública de serviços aos cidadãos é apenas um dos instrumentos do combate às desigualdades. O caso português, como tantos outros, é ilustrativo das limitações das políticas sociais meramente reparadoras. A par das políticas reparadoras é necessário desmercadorizar o trabalho. Reconhecer que a repartição do rendimento depende de instituições sociais e de políticas. Que toda a legislação que regula as relações de trabalho, a par das políticas macroeconómicas que podem estimular mais ou menos o emprego e orientar melhor ou pior o investimento, são determinantes fundamentais da repartição primária. Isto é tanto mais importante quanto o desemprego e a exclusão deixaram já de ser os únicos mecanismos geradores de pobreza e o próprio sistema produtivo voltou a produzir, a par de mercadorias, trabalhadores pobres."
José M. Castro Caldas, in Ladrões de Bicicletas

Notas para um Debate

Publicado por João Rodrigues, no blogue Ladrões de Bicicletas. Actual.

"Contribuir para a construção do que Manuel Alegre designou por Estado estratega é uma das tarefas da esquerda socialista. Esta ideia foi também abordada por Jorge Bateira em artigo, que vale a pena recuperar, onde defende que se repense a relação entre Estado e mercados como construções políticas passíveis de várias configurações. Um Estado estratega tem de ser capaz de disciplinar o poder empresarial privado e de impedir que este sobreviva através da transferência sistemática de custos para os consumidores, para os trabalhadores e para a generalidade dos cidadãos, sob a forma, por exemplo, de produtos perigosos para a saúde, de salários baixos, de más condições de trabalho ou de actividades poluidoras.Outras práticas, quase sempre predadoras, devem ser também bloqueadas. Estou a pensar na entrada de empresas privadas no campo das actividades tradicionalmente associadas ao Estado Social e à gestão de equipamentos e infra-estruturas públicas. É preciso travar a busca de lucros à custa do esvaziamento do Estado e da perversão dos serviços e equipamentos públicos. Como já aqui defendi, esta é uma das mais pesadas heranças da «esquerda moderna» rendida à última fase do neoliberalismo agora em crise. Um Estado estratega tem de mobilizar os instrumentos de política disponíveis para encaminhar o sector privado para as actividades de produção de bens transaccionáveis para exportação. É aqui que as virtudes do empreendedorismo podem ser testadas. Os apoios públicos a sectores económicos, em tempos de crise, devem ser canalizados para a sua promoção. Um sector financeiro público cada vez mais robusto e capaz de forjar uma política de crédito adequada pode ajudar.
Isto passa também por traçar linhas de protecção em torno dos serviços públicos e de sectores naturalmente monopolistas. É também por isto que a provisão pública de bens e serviços sociais e a propriedade pública de sectores estratégicos continuam a ser decisivas. Há muito tempo que as privatizações apenas contribuem para a consolidação de grupos económicos rentistas que capturam reguladores e decisores políticos. Quem quer investir em bens e serviços para exportação quando pode controlar a Brisa, a Lusoponte ou a REN, empresas onde, dada a natureza da actividade, os lucros estão praticamente garantidos?"

VIA NOVA

Transcrição de artigo de Manuel Alegre, no Diário de Notícias. Pertinente.

"Segundo o general de Gaulle, comete-se por vezes o erro de ter razão antes de tempo. Na moção "Falar é preciso", apresentada ao Congresso do PS em 1999, cometi esse erro: "A crise financeira que alastrou, dos mercados asiáticos à Rússia e já ameaça gravemente o Brasil e toda a América Latina, pode minar, de um momento para o outro, pela incerteza e pela volatilidade, o próprio funcionamento dos maiores centros financeiros do mundo. A 'mão invisível' falhou. São os mais ortodoxos ultraliberais, como Milton Friedman, quem vêm agora pedir a nacionalização da banca no Japão."E é por isso que é necessária uma nova esquerda. À escala europeia, primeiro. Mas capaz de se fazer ouvir, também, à escala mundial. À dimensão planetária do actual poder económico, financeiro e mediático, há que contrapor uma alternativa política."Temos de continuar a exigir uma reforma das instituições internacionais, do FMI ao Banco Mundial, para que deixem de ser arautos e agentes do pensamento único. Outra lógica terá de presidir à Organização Mundial do Comércio, para que a livre circulação de mercadorias não se torne em mais um instrumento de enfraquecimento das economias mais frágeis."É preciso regular os mercados financeiros mundiais, cuja ditadura e irracionalidade põem em causa a própria estabilidade dos sistemas políticos democráticos."Que fazer agora?Os defensores do Estado mínimo, ideologicamente derrotados, pedem a intervenção do Estado. Para quê? Suspeita-se que para manter o que está e socializar as perdas. O problema é que, se tudo ficar na mesma, as mesmas causas produzirão os mesmos efeitos.E a esquerda? Como escrevi, também antes de tempo, na moção que levei ao Congresso do PS de 2004: "A esquerda tem de integrar e debater, no seu pensamento próprio, os princípios e os instrumentos possíveis de regulação da globalização: o combate à predação das multinacionais que localizam e deslocalizam investimentos a seu bel-prazer, a taxação das transacções financeiras internacionais, a abertura dos mercados dos países desenvolvidos às exportações oriundas dos países em vias de desenvolvimento, a travagem da proliferação dos off-shores, o combate à economia 'suja' dos tráficos de pessoas, drogas e dinheiro, o combate à exploração de mão-de-obra infantil, escrava ou sem quaisquer direitos sociais, e à degradação ambiental."Propus então um novo Contrato Social. E um Estado estratega, "cuja função não se reduz ao papel de árbitro, mas de produtor de bens públicos essenciais, desde o funcionamento do Estado de Direito à promoção dos serviços de interesse geral e à regulação dos mercados. Um Estado estratega a quem caberá suprir as falhas do mercado e estimular áreas ou sectores qualificados." E acrescentava: "Para desempenhar essa função, o Estado precisa de manter nas suas mãos instrumentos eficazes, como por exemplo a Caixa Geral de Depósitos."Hoje até Alan Greenspan reconheceu que errou ao confiar que o mercado pode regular-se a si próprio. Mas, em 2004, aquelas ideias que propus pareceram arcaicas aos fundamentalistas do neoliberalismo e aos entusiastas da chamada esquerda moderna.Não se sabe que réplicas se seguirão ao tsunami que abalou o sistema financeiro mundial. Nem até que ponto irá a recessão económica e quais as suas consequências sociais e políticas. Sabe-se que nada ficará como dantes. Mas em que sentido se fará a mudança? Era aí que a esquerda deveria ter um papel. Mas onde está ela? Talvez algo de novo possa surgir de uma vitória de Obama. Pelo menos um sopro de renovação. Mas há um grande défice de esquerda na Europa. Uma nova esquerda só poderá nascer de várias rupturas das diferentes esquerdas consigo mesmas. Ruptura com as práticas gestionárias e cúmplices do pensamento único. Ruptura com a cultura do poder pelo poder e com o seu contrário, a cultura da margem pela margem, da contra-sociedade e do contrapoder. Processo difícil, complicado, mas sem o qual não será possível construir novas convergências. Não para a mirífica repetição da revolução russa de 1917, nem para um modelo utópico global. Tão-pouco para segundas ou terceiras vias. Mas para uma via nova, que restitua à esquerda a sua função de força transformadora da sociedade e criadora de soluções políticas alternativas."

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Em prol da Ecologia e da Higiene Educativa



Não existem dúvidas. A Educação deste país está ferida de morte com causa bem conhecida: a sua ministra, a sua irredutibilidade, a sua má intencionalidade, bastante incompetência e muito desconhecimento da área que devia dominar. De resto, sabemos claramente a razão da sua escolha. E esta não foi, certamente, pugnar pelo desenvolvimento do sistema educativo, com ampla participação dos seus intervenientes, nos termos que um intrincado paradigma sócio-familiar, económico e cultural exige. Por isso, a sua competência técnica era descartável. Tinha a importância de um simples guardanapo de papel, com iguais efeitos perniciosos em termos ecológicos. O que era necessário, isso sim, era implementar um cortex definitivo e radical no orçamento para a educação, na prossecução de um objectivo que agora se comprova como um tremendo erro, que contribuiu significativamente para exacerbar o presente cenário de crise. Esse objectivo era a erradicação do, então, sacralizado défice.

Para isso, repito, não era necessária competência técnica e profundo conhecimento da área de tutela. Bastava manha, má fé, manipulação da opinião pública, arregimentação dos media, teimosia até mais não, a que muita basófia parola vulgarmente designa como "coragem política".

É evidente que este Monge pasma com a confrangedora ignorância demonstrada pela sociedade em geral acerca dos problemas, muitos e graves, com que se depara a educação no país e no mundo. Muitos encarregados de educação e outros parceiros com responsabilidade e interesse na temática opinam, de forma muito superficial e artificiosa, sobre a posição inauditamente firme dos professores no presente contexto. Pois muito bem. Paciência, persistência, costas largas e a dose certa de desdém fazem parte da resposta.

A presente conjuntura educativa é extremamente singular e requer uma abordagem delicada, abrangente e multidisciplinar. Mais do que semear ventos, desmotivações e crispações numa classe profissional cuja intervenção será decisiva na análise e resolução da vastidão e diversidade dos candentes problemas familiares, sociais e económicos que enformam a dita conjuntura, urge cativar e mobilizar professores. Em suma, reconhecer a importância de uma classe profissional cujo saber, experiência e competência não são descartáveis, ao contrário da ministra, numa estratégia de resolução.

Esta seria uma postura de bom senso, de sentido de Estado, de verdadeira defesa do interesse público. De facto, estas não são as qualidades da ministra da educação. Tão pouco do primeiro ministro que a sustém para além do razoável.

Por isso, importa continuar a luta. A bem da educação, do país e daqueles que não vêem, ou obstinadamente, não querem ver. Que alguém os ilumine.

E que se descarte quem de direito.

Palavra do Monge

sábado, novembro 15, 2008

TU ÉS

Men Fighting-Milburn Foster




Tu és arma, tu és lança,


Gume frio de uma espada,


Rumor de gente que avança,


Decidida e exaltada.




"





És ameaça aos senhores,


Aos donos deste poder,


Que julgavas defensores,


Convictos, do teu querer.




"





Possuis a alma arrojada,


Bebes força na razão,


És a voz legitimada,


Denunciadora da traição.









Palavra do Monge

sexta-feira, novembro 14, 2008

Ditadura em democracia-uma possibilidade






Há pessoas para quem a democracia é um constrangimento. São ditadores em potência e podem manifestá-lo na gestão das suas relações. É um problema para eles e para os próximos mas, em linguagem de bombeiro, constitui uma ocorrência circunscrita.



Quando eles assumem lugares na cúpula do poder, não há bombeiros que nos acudam. Tornam-se incendiários compulsivos, um perigo público que implica recrutamento de recursos em larga escala, para reparar e conter os danos da sua criminosa acção. Mais ainda, quando mais tardia for a reacção, maiores serão as consequências nefastas decorrentes.



Pois, os professores reagiram tarde. O direito à indignação, atempadamente exercido, pode constituir uma bóia de salvação, não para prosseguir pretensos e tão propalados interesses corporativos, mas para defender instituições fundamentais como a da escola pública, afirmar a sua boa prática em prol de uma educação de qualidade e contribuir para o desenvolvimento social.


Por conseguinte, seria desejável que, contra toda a propaganda difundida pelos media arregimentados pelo poder, se criasse um amplo movimento social, solidamente ancorado na prossecução do verdadeiro interesse público, desparasitado de conluios aparelhísticos ou carreiristas, estes sim, emanações de um corporativismo elitista pernicioso, de natureza político-partidária.




Uma maioria absoluta, tendo como protagonistas pessoas inescrupulosas,que não sustentam a sua acção em causas e princípios universalmente justos, que varreram da sua visão do mundo e da sociedade a ideologia orientadora, que omitiram da sua prática política a cartilha de valores que dão coesão e sentido ao partido a que pertencem, é uma amostra de como, sob a capa de uma pseudo-democracia, se dá corpo a uma ditadura de facto.



Deste modo, a Assembleia da República perde a sua razão de ser. A confrontação de ideias, o exercício do contraditório, transforma-se num diálogo de surdos, em face da inflexibilidade da maioria. Deste modo, propostas porventura válidas, passíveis de ser integradas em projectos normativos mais consensuais porque mais participados, são pura e simplesmente excluídas, num claro desrespeito pelos parceiros de bancada.



Esta estratégia assume-se como uma espada de dois gumes. A assunção unilateral de decisões responsabiliza apenas quem as toma. Neste caso, o descambar da estrutura económica e social do país é atribuível em exclusivo ao governo da maioria e ao partido de onde emergiu.



E que não venham a lume desculpas com a crise internacional. Muito antes dela se ter evidenciado, já este país estrebuchava em crise interna de gravidade evidente, com raízes em medidas desastrosas conducentes ao abrandamento económico, ao desemprego, ao trabalho precário, a bolsas de miséria e de exclusão, ao advento da criminalidade violenta, ao desagregar da família e outras mazelas que são do conhecimento geral.



Podem ser prepotentes e pouco ou nada democratas. Mas lá que são responsáveis são. E a punição surgirá, "mais tarde que cedo".



Palavras do Monge



domingo, novembro 09, 2008

PROFISSÃO DE FÉ


After Kimt - Erica Harney





Imagine-se! O Monge é socialista. Visceralmente socialista. As suas visão do mundo e consciência social foram forjadas em 74. Tinha o Monge 17 anos. Hoje tem 51 e as suas convicções mantêm-se mais inabaláveis que nunca. Porque comprovadas com o fluir das circunstâncias, analisadas com o estatuto de observador participante ou não.



Para além de socialista, o Monge já foi militante. Já não o é. Paradoxalmente, ou talvez não, deixou de sê-lo pouco tempo após a chegada ao poder do actual governo. A opção Sócrates afigurou-se-lhe, então, como a alternativa interna que se impunha face a uma deriva nacional e internacional preocupante, que pressupunha colagens a uma apregoada mudança, repleta de estereótipos que contrariavam as suas ideias quanto ao modelo de sociedade, que ele pretendia estável, justa, desenvolvida e participada.



Foi traído. Definitiva e irredutivelmente traído. E uma traição desta natureza não se perdoa. É humilhante, confrangedora. O vazio daí decorrente doeu, persistentemente. A ferida não cicatriza, imune a quaisquer acções terapêuticas.



O Monge continua socialista. Tanto o esboroar do Muro, como o colapso previsível, mas fragoroso, da teologia do mercado livre vieram comprovar as suas convicções. A sua confiança na natureza humana sempre foi limitada, suportada por uma análise antropológica que fez emergir os perigos da sua intrínseca animalidade. Contra genes e química inconsciente a luta é dura e as derrotas frequentes. A racionalidade cede demasiadas vezes à parcela instintiva do Homem.



A sua confiança nos políticos, na estrutura e funcionamento partidários ruiu. A sua crença nas potencialidades exclusivas do Estado Social acentuou-se. É preciso renovar a luta por uma Educação Pública de qualidade para todos, geradora de iguais oportunidades e propiciadora de recursos em quantidade e qualidade adequados; é preciso contrariar tendências direccionadas para um ensino exclusivo, elitista e segredador, de natureza privada e apologista de uma sociedade de castas.



Iguais posturas se devem manter relativamente à saúde, à justiça e ao sistema de redistribuição da riqueza. A história recente assim o exige. O Individualismo cego faliu, pouco tempo após o Comunismo castrador da diferença.



Pois, o Monge continua irredutivelmente socialista, estranhamente jovem e estranhamente actual na maneira do ver o Mundo. Irredutivelmente adverso àquele partido que já foi o seu, mas que incorporou na sua prática e no seu discurso, de forma irresponsável mas criminosamente intencional, as veleidades do dito Individualismo. Essa deriva deve ser punida, na justa proporção dos danos irreparáveis que causou e que continua a causar. A bem do verdadeiro desenvolvimento, aquele que assenta no primado da dignidade do Homem/Pessoa e Homem/Comunidade.



A propósito. O Monge esteve lá, naquela dos 120 000. Muito crítico, muito consciente e muito orgulhoso por ser professor.



Sim, nós vamos conseguir.



Palavra do Monge

domingo, outubro 26, 2008

A Respeito de maiorias absolutas




O nosso primeiro releva as virtudes da maioria absoluta. Justifica-o com a necessidade de decapitar, trinchar, esmagar o que designa por certos corporativismos. Alguns. Não todos.




O Monge assume-se como democrata. Por isso, respeita o princípio da livre associação. Prefere este termo ao de corporativismo. Este soa-lhe a terminologia azeda, ressuscitada a partir de sabe-se lá que estranhos desígnios. Mas vai usá-la, para facilitar a contextualização.




A génese de uma associação, profissional ou de qualquer outra natureza, emerge de uma necessidade. Por um lado, de auto-defesa contra certos ataques mais ou menos venenosos, mais ou menos dissimulados. Por outro, pressupõe o reconhecimento da sua importância social. Visa ainda assumir-se como elemento potenciador de uma resposta coesa a necessidades grupais. Pode, eventualmente, ter como objectivo a assunção do poder.




Neste sentido, eu atrever-me-ia a designar os partidos como corporações de indivíduos, enleados num cerne de princípios, valores e objectivos comuns, coniventes com um projecto de conquista de poder, visando a intervenção ou mudança social. São, indubitavelmente, pilares da democracia, desde que as suas acções sejam conformadas pela regulação constitucional, no respeito consciente pelo primado da separação de poderes.




Existem, evidentemente, associações proibidas, catalogadas com o exercício pernicioso de maiorias não legitimadas ou sustentadas por tentativas de legitimação nada transparentes e segregadoras, conforme comprovam evidências históricas.




O Monge considera as corporações partidárias como entidades essenciais ao exercício democrático do poder. No entanto, não esgotam o espectro das entidades corporativas com intervenção político-social. Deste modo, a emergência de outras corporações é salutar e desejável. Constituem alternativas cuja acção complementa a acção partidária e equilibra a intervenção política e social comunitária.




Podem ser um estorvo, particularmente a projectos de homogeneização e perpetuação do poder.


Assim sendo, são benvindas para a generalidade dos cidadãos e a sua acção é determinante para a dissuasão de tentativas mais ou menos totalitárias. É a vantagem do multilateralismo introduzido nas interacções político-sociais.




O nosso primeiro excluiu à partida o exercício desse multilateralismo, vulgarmente designado como negociação, concertação ou diálogo. O Monge compreende as suas relações promíscuas com a tal maioria absoluta, mas agradece aos tais corporativismos a sua acção preventiva ou reactiva.




Maiorias absolutas não. Escaldam que se fartam. Não se peça a gato escaldado que repita a experiência. O Monge já tem medo até da água fria. Há limites para o sadomasoquismo.




Palavra do Monge








quinta-feira, outubro 16, 2008

Lições da História




Li na Visão um artigo.

Esquece-me o nome do autor. Só sei que escreveu bem. Concordei, abismado com a raridade.

Recordou os momentos complicados da grande recessão. Recordou a emergência providencial de Keynes e dos seus princípios essenciais, relevando a importância do Estado e das suas funções essenciais:


- Papel regulador da sociedade, incluindo a economia;

- Garantia dos serviços básicos essenciais, sem discriminação;

- Investimento motor da economia, em contra-ciclo, gerando produtividade e emprego.


O Keynesianismo correspondeu a um período de bem estar e desenvolvimento. Bruscamente, surgiram os economistas da nova vaga. Keynes foi súbita e deliberadamente segregado. Apregoou-se a liberdade de mercado, a competitividade sem freio, o individualismo foi imagem de marca. Um desses economistas até viria a receber um prémio Nobel: Milton Friedman. Um desperdício que a história agora confirma.

Saliente-se que este governo embarcou, à margem da natureza do partido e dos seus princípios mais sagrados, nas ideias neoliberais. Contratos a prazo, precaridade, legislação laboral agressiva e parcial. Perda do poder de compra, despedimentos, desumanização do vínculo laboral. Estratégias de confronto com trabalhadores do Estado, crispação, arrogância, exclusão do diálogo, concertação nula. Pressão sobre as famílias, fragmentação dos laços familiares, separações, ausências, crianças encaixotadas. Stress, desequilíbrio físico e psicológico, ansiedade.

Abandono de projectos de vida, desesperança. Acréscimo de criminalidade violenta, surtos de choques interculturais.

É um panorama sombrio, com causa próxima no desempenho de um governo de maioria. Abaixo as maiorias. As maiorias e as mudanças propostas pelas maiorias. Não procuremos a mudança pela mudança. Queremos que ela constitua instrumento de progresso e bem-estar social. Estas mudanças não! Mais vale estar quedinho e caladinho. Não bulir.

Por tudo isto não culpemos a conjuntura internacional, um atestado arrasador do capitalismo neoliberal. Não. A crise interna já vem de há meia dúzia de anos atrás. De atitudes, acções e estratégias inapropriadas. Da falta de sentido de Estado da governança. Da intrusão da economia no poder político. Da falta de independência e de honestidade de quem governa.

Mas Deus é capaz de estar com os socráticos. Esta conjuntura deve ter sido encomendada em devido tempo. Aqui está uma boa desculpa. Para quem sofra de miopia, claro.


Palavra do Monge

terça-feira, outubro 07, 2008

A Crise Anunciada

Aroeira





Há uns tempos foi o comunismo. Desabou fragorosamente, com os aplausos daqueles que pretendiam a hegemonia mundial. Oportunistas militantes defenderam e difundiram teses que apontavam para uma via de sentido único, que se designou como capitalismo neoliberal. Bill Gates designa-o como capitalismo criativo, enaltecendo as potencialidades de intervenção solidária que tal sistema permite. De facto é uma espécie de sopa dos pobres, a prática da caridadezinha. São visões tacanhas do mundo e do Homem, encarado este como mero instrumento de produção. Diria eu que é um novo sistema esclavagista, que fornece a muitos apenas os meios de subsistência essenciais à produção de trabalho.


Desta vez foi o capitalismo, na sua versão bestificada e selvagem, sustentada pelo apelo ao individualismo egocêntrico, pelo princípio do estado mínimo e pelo dogmatismo de um mercado aberto e livre, sem peias nem reservas. Estoirou, como se previa. E todos pagam pela incompetência e má fé de alguns. Incompetência de governantes, gestores e empresários que pugnaram pela precaridade, mobilidade e instabilidade a vários níveis dos trabalhadores. Cegueira e parca inteligência de governantes e afins que não compreenderam que a estabilidade de emprego gera outras estabilidades e, por conseguinte, é factor de desenvolvimento. Cegueira destes protagonistas às lições da história, que aponta para crises cíclicas do capitalismo. É preciso destruir para desenvolver. Constatemos a falta de originalidade.


Governantes de vistas tolhidas, líderes e gestores incapazes de ver mais longe do que o seu umbigo. Que pegassem no exemplo de Ford. Estabilidade de emprego e salários dignos foram a sua estratégia para o desenvolvimento. Humanização nas relações laborais envolveram trabalhadores e empresário em objectivos comuns para benefício mútuo.


Mas gestores, empresários e governantes de hoje são exasperadamente banais e afinam pelo mesmo diapasão. Governantes sem perfil de homens de estado, profundamente implicados com sectores que não os da coisa pública ou do bem comum.


A crise esperada aí está. Quem a vai pagar é o mexilhão do costume. Mas o mexilhão que se mexa e assaque responsabilidades a quem de direito, ou de direita. O mundo não pode ficar o mesmo. E a solução é tão simples. Oportunidade de trabalho estável para todos. Salário digno desse nome. E o desenvolvimento virá por acréscimo, muito naturalmente.


Valha-nos Santa Luzia.


Palavra do Monge

segunda-feira, setembro 15, 2008

Moinho - anicoe

A Torre - anicoe

sexta-feira, agosto 08, 2008

Porque não te calas?






- Porque não te calas? – impunha asperamente um dos autoproclamados democratas daquela sala em que se pugnara outrora rijamente por valores considerados fundamentais, por ideias profundamente alicerçadas na razão e na convicção da sustentabilidade do bem comum e do interesse público. Eram ideias claras que pressupunham que o bem-estar individual seria corolário da prossecução daquelas metas, por alguns proclamadas de utópicas e, por conseguinte, descartáveis.

- Porque não te calas... calas... calas...? - Insistiam os pares do autoproclamado dito. O som era impressionante, ampliado pela acústica de uma sala predestinada para a oratória. Pretendia ser intimidatório, sustentado na força do número, fundado na emotividade instintiva e subserviente das massas. Pretendia contrariar a proposta inconveniente de um, profundamente balizada na constatação de factos, na visão crítica de uma mudança social destemperada e na força da razão.

- O poder corrompe. O poder degrada. A corrupção dever ser erradicada. A lei é o meio e o processo...

- Porque não te calas? - O histerismo atingia o paroxismo. Por qualquer razão, aquela proposta insana beliscava o íntimo e os interesses de uma maioria. Impunha-se abafar aquela iniciativa desde já, esmagar definitivamente a vontade daquele insolente.

De facto, aquela intenção não passou disso. A corrupção institucionalizou-se. Lá fora, as gentes abanaram cabeças e encolheram ombros. Formularam os já costumados e acumulados juízos de valor extremamente negativos sobre a assembleia que outrora fora do povo. E esperaram pacientemente pelo próximo escrutínio. Seria um ajustar de contas a prazo e à medida.



Palavra do Monge

sexta-feira, julho 25, 2008

JULHO DE 2020

A Day Is Coming

Miriam Neiger




Memórias. O Monge agora vive de memórias. Sorve-as avidamente, reconhecendo nelas a muleta da sua própria sobrevivência. Sem elas, a sua vida explodiria num mar de trevas, tal qual o derradeiro flop de uma antiga lâmpada de filamento. Como testemunho da inevitável caducidade da chama, sobreviveria um fragmento de vidro chamuscado por um inestético e anónimo pó negro, naquele retorno cíclico e incontornável à matéria-prima do acto da Criação.



Memórias. O Monge assume o seu indeclinável papel de Transmissor. Como lhe soa estranhamente esta palavra, quando confrontada com as reminiscências de uma florescente civilização, cujo principal impulso era o acesso instantâneo à informação e ao conhecimento. Tinha sido a Era dos Prodígios, bela mas incompreensivelmente efémera.



No entanto, a sua audiência bebia-lhe a voz, os gestos e o olhar. O Monge sentia que acreditavam, pois as crianças sempre foram crédulas, apenas exigindo em troca que o interlocutor detivesse o mágico dom de cativar.



Para o Monge este exercício de sedução era relativamente fácil. Bastava relatar a verdade que, neste caso, ultrapassava qualquer ficção.



E, em palavras simples, falava-lhes dos grandes pássaros de ferro que outrora cruzavam os céus, com o bojo prenhe de pessoas para as quais aquele privilégio era coisa rotineira. Falava-lhes de caixas volantes que cruzavam países com a força e a liberdade do vento. E falava-lhes ainda do precioso líquido que os alimentava e que se sumira, num ápice, deixando todos perplexos, de consciência pesada com a culpa da sua incomensurável displicência e sofreguidão.



Memórias. Para o Monge, ente privilegiado por viver muito em pouco tempo, o insuperável problema esteve e estará na retenção, passagem e, sobretudo, valorização do testemunho. Outrora, em eras a perder de vista, quase sempre se dera o devido valor àqueles cuja face fora retalhada pela inexorável erosão da idade. Eram eles, por força de uma palavra sustentada em boas e más experiências, em relatos ouvidos e conservados com o desvelo de quem lida com o sagrado, que asseguravam a sequencialidade do saber.



Por mero acaso, o Monge fora espectador e interveniente dos fenómenos que emergiram na Era dos Prodígios. Fora submerso pela convulsão social dos Últimos Anos, os da decadência. Depois assistira ao rápido retrocesso a comunidades cada vez mais isoladas, que tiveram que reaprender as técnicas da auto-suficiência. A Globalização sumira-se tal como aparecera, num ápice. E a Humanidade chorara o que perdera e que tivera ao seu alcance: o bem-estar para todos e para cada um, objectivo desfeito pela sua ancestral tendência à cupidez e ao individualismo.



Memórias. E num mágico cenário de olhos brilhantes, que reflectiam o tremular da reconfortante fogueira, as crianças escutam palavras de um outro mundo, que reproduziriam, cada qual à sua maneira, quando os seus olhos paulatinamente se cerrassem, cedendo lugar ao sono, ao sonho e a um cândido sorriso. O Monge continuou, solitário e meditabundo, perscrutando o céu estrelado, à cata de um qualquer improvável relampejar em movimento: um jacto da Era dos Prodígios. Até que a sua derradeira esperança se apague, como o brasido que se consome à sua frente.



Palavra do Monge

quarta-feira, junho 11, 2008

NINGUÉM SE IMPRESSIONA

Hadleigh Castle
De Constable



Este nosso singular torrão, detém uma particularíssima singularidade, passem as sucessivas redundâncias. Tem um primeiro ministro nada impressionável. Quer isto dizer que não reage a impressões ou a pressões. Tendo em conta que a nossa competitividade, nos heréticos termos tão em voga, constitui condição de êxito, mérito e excelência (passem as sucessivas redundâncias) e que essa competitividade depende da presteza e adequação da reacção a pressões e impressões, afere-se, de forma lapalissiana, que o nosso primeiro não é capaz. Mais grave ainda, será o facto de que este incapacidade de ser impressionável está a colocar o dito torrão de pantanas. A Causa Pública, o poder de exercício do Estado, foi dolosamente afectado por arrogantes decisões, genericamente más, por algumas omissões e por apregoadas reformas, atabalhoadamente implementadas, que se assumiram como factores geradores de injustiças, rupturas e instabilidade social. É preferível uma não reforma a uma má reforma. A História está prenhe de exemplos, que nunca são tidos em conta por pessoas não impressionáveis. Daí o infernal ciclo de crises delatadas pela dita História.


Sendo assim, o nosso primeiro não difere nada dos senhorios do poder, qualquer que seja a sua natureza, mas que confluem sempre no poder económico. Toda esta peculiar e restrita elite tem algo em comum: não é impressionável.


Não é impressionável pelos números da rua, incapacidade matemática aguda; não é impressionável pelos indicadores do desemprego; não é impressionável pela precariedade galopante; não é impressionável pela quebra a pique do poder de compra; não é impressionável pelos estigmas bem visíveis de pobreza; não é impressionável pela segregação social crescente; não é impressionável pelo fosso abissal entre ricos e pobres... Bom, passem as redundâncias.


Digamos que a postura desta governança não é postura de Estado, mas do não Estado, tendente para Estado zero. Estranho paradoxo! Numa altura em que as pessoas impressionáveis antevêem como conjuntura de crise, a pessoa nada impressionável do nosso primeiro implementa as auto-proclamadas reformas inevitáveis, que adicionam mais crise à crise. Nada impressionante.


Ah! Acrescentemos ainda que a impressionante teologia do capitalismo neo-liberal não impressionável falhou, à semelhança da outra teologia que outrora vingou do outro lado do muro. Antigamente dizia-se, com alguma sageza, que os extremos tocam-se.


Ah! E não se impressionem com as filas para os combustíveis. O Monge convida-vos a tomar o lugar de espectadores neste sedutor início de milénio. Mas não se impressionem. Isso nunca, jamais, em tempo algum. Passem as redundâncias. Também as históricas...


Palavra do Monge.


sexta-feira, março 28, 2008

Camaleões

Eva Regina Silva



Impõe-se, para que mantenha a coerência, que o dito partido socialista, mude nome e sigla. Diria mais, mude o, outrora, bom nome e a, outrora, boa sigla. De facto, tal partido não tem nada de socialista. Nem ideologia, nem militantes, nem acção. Os princípios que norteavam o antigo partido, o do bom nome e o da boa sigla, eram universais. Os antigos militantes eram de boa cepa, forjados nos tempos duros, em que a oposição exigia coragem, ética e carácter. Os de agora prezam pelo seguidismo, pelo carreirismo, pelo desapego a princípios norteadores sem idade. São amorfos, não têm referências e, por conseguinte, perfilham a inércia. A acção do partido é tão neoliberal, que desarmou os parceiros neoliberais assumidos, mergulhando-os em crises sem memória. Mediante um perverso efeito colateral, descaracterizou o dito, conduzindo a uma espécie de orfandade política daqueles que, tradicionalmente e em saudosos tempos, se reviam nele.



Esta opção consciente pelo neoliberalismo mereceu o aplauso de pessoas sem pergaminhos socialistas. Diz-me quem te apoia, dir-te-ei quem és.Leonor Beleza é um desses casos. Os intragáveis Emídio Rangel e Sousa Tavares, idem, idem, aspas, aspas... E muitos outros, cujo apoio só deslustra aquele que o recebe. E as pessoas vão-se afastando, pelas mais sábias e profiláticas razões. E logo esta da neoliberalicite, que é doença ruim, difícil de tratar e, mais ainda, de erradicar.

Por cá, o Monge optou pelo fato espacial, hermético, à prova de som e de imagem. Pode ser que se safe.

Palavra do Monge

segunda-feira, março 10, 2008








O AVESSO DO AVESSO






Pois é. Isabel Stilwell e Eduardo Sá não querem apenas virar os dias do avesso. São mais profundos e ambiciosos. Decidiram mudar o Mundo do avesso. Diria mais, acham-se com saber e competência para virar a Educação do avesso. E ao fazê-lo, em vez de abrirem sentidos e mente a uma realidade que, obviamente, desconhecem, partem de uma ignorância sombriamente confrangedora para tecer opiniões, leviana e mansamente, em ambiente típico e relaxante de marquesa, sobre um processo crítico, atamancado, injusto e marcadamente contestado, de avaliação dos docentes.


Afirmações de Eduardo Sá são preocupantes. Parece que os professores ainda não saíram do modelo de escola de 75, terá dito. Evidentemente, o Monge, que na altura conduzia, colocou mais uma vez em causa a sua segurança e a dos outros, pois descarregou sobre o volante a sua bilís, ultimamente muito sobrecarregada com descargas inusitadas. Isabel Stilwell, uma oitava abaixo, mas em parceria harmónica com o interlocutor, acenava afirmativamente ao microfone.


Vejamos. Psicológica ou psicanaliticamente falando, que terá um mediático psicólogo, com acesso privilegiado a um meio de comunicação de massas, contra a escola de 75? Que idade teria na altura? O Monge tinha 17 anos. Eduardo Sá parece mais novo. Que vivências de 75 lhe foram tão traumáticas? A massificação do ensino, contrariando a triagem de uma educação para elites? A gestão democrática das escolas, em oposição à autocracia de um órgão unipessoal? Será que a sua origem radicava nas elites referidas e ele foi influenciado pela sua ambiência político-cultural característica? Ou procede de um estrato social ao momento menos interveniente? Não sei. Só sei que Eduardo Sá culminou com assinalável êxito o seu percurso académico. Provavelmente em escolas de 75.


Outra coisa bule com as meninges do Monge. É espantosa a ignorância que, mesmo especialistas renomados, evidenciam, quando falam sobre educação e professores. É um sintoma de um alheamento preocupante, durante demasiado tempo. Qualquer avaliação é um processo crítico, que merece imenso cuidado na ponderação de todos os factores que nele intervêm. O Monge está-se nas tintas se no privado a fazem sem a necessária ponderação. O privado não é um exemplo de virtudes e muito menos de justiça. Também se está nas tintas se na Finlândia a fazem desta ou daquela maneira. Só sabe que, numa reportagem sobre a temática, tapou os ouvidos e viu. Viu turmas reduzidas, mobiliário acolhedor e adaptado, apoio individualizado, material de outra galáxia. Enfim, investimento a sério.


Se, por acaso, sabe-se lá devido a que conscientes, subconscientes ou inconscientes razões, Eduardo Sá tem algo contra a escola de 75, o Monge também compreende que tenha sofrido um súbito apagão, uma branca de todo o tamanho, ao descurar os sintomas da recente invasão da nossa ilustre capital. Esses sintomas emergem de um profundo descontentamento e muita desilusão. Um psicólogo de topo deveria saber ler o que já não são entrelinhas, mas evidências.


Será que Eduardo Sá quererá pôr em causa a quase totalidade da opinião dos docentes deste recanto? Não é muito racional e é muito, muito, parcial. Ou será que pensará que, por infinitésimo acaso probabilístico, quase todos os professores são comunistas. Deste modo, compreende-se o 75. E talvez a tendência consciente, subconsciente ou inconsciente do retorno a 74.


Um conselho à navegação: erradiquem este hábito perverso de se pronunciar sobre tudo e todos, sem conhecimento sustentável. Abaixo a opinião. Acima a análise aprofundada, multidisplinar e imparcial dos factos, fenómenos ou processos educativos. Abaixo esta sombria e pouco dignificante sobreutilização do preconceito como metodologia de análise da factualidade social.


Pessoalmente, 75 não me causa comichão de maior. 2008 enche-me de urticária.


Palavra do Monge

sexta-feira, março 07, 2008


PELA RUA DA AMARGURA

Justice and the Light of Truth

Bassman






Os governantes sábios da antiguidade eram suficientemente sábios para duvidar das justeza ou eficiência das suas próprias decisões. Procuravam no espelho social o reflexo das suas políticas. Aferiam as opiniões na rua, no meio do povo. Nunca desdenharam deste sistema infalível de se auto-avaliar. O mérito ou o demérito, a excelência ou a falência das suas acções, eram sentidos no fervilhar da populaça, no agitar convulso do quotidiano. E da objectividade dessa aferição dependia a sua sobrevivência política. Eram sábios, porque humildes. Eram bons porque se colocavam em dúvida permanente.



O futuro era a sua grande incógnita. A sua previsão uma das suas maiores preocupações. Daí a preponderância das arúspices que, à falta de melhor, esventravam aves em prol do serviço público. Pode parecer tosco ou rude este processo milenar. No entanto, os subtis e apurados sucedâneos contemporâneos não se comportam a maior altura. É tudo uma questão de fezes.



De qualquer forma, assume-se que governante prevenido procura os sinais certos, no tempo certo e no lugar certo. Assume-se também que, se o faz, é para reformular más práticas, porque disso depende a persistência do seu precioso pescoço político. E, por consequência, algum bem para o Zé Povo.



Pois. Estes governantes são desgovernados. Tão cegos, tão surdos, mas uns cotovelos falantes. As suas acções não convenceram. As suas algaraviadas banalizaram-se, o que significa que viraram conversa de pássaro, um assobio que já não merece sequer um voltar de cabeça, a curiosidade de um olhar surpreendido.



A persistência pode ser uma virtude. A teimosia é, indubitavelmente, um defeito. A cegueira política é necessariamente um crime. A arrogância um pecado. O suicídio um pecado mortal.


Pois é, Senhora Ministra, Senhor Primeiro Ministro, Secretários e Subscretários de Estado, Jograis e Engraxadores do Reino, Peças Amorfas do Aparelho, Damas e Cavalheiros, os sinais estão aí. Naquele inexorável e tão temido lugar. Na rua.




A avaliação não admite exclusões. Os avaliadores, agora, são muitos. Daí a legitimidade do seu último e único parecer: um definitivo, uníssono e ruidoso chumbo.




Sinto muito.



Palavra do Monge




domingo, fevereiro 10, 2008



La Nouvelle Vague


Ciosos da necessidade de criar lugar e estatuto, os economista da nova vaga que, afinal não constitui nada mais, nada menos, do que uma muito velha com nova roupagem, assumem que a sua visão é uma visão integral do mundo, do indivíduo e das suas relações. Por consequência, não é um pedaço da Humanidade que pretendem submeter ao afiado gume do seu bisturi, mas sim toda ela, no pressuposto de que qualquer acção humana detém natureza económica.


Entram, assim, naquela competição desenfreada e irracional por um lugar de "excelência" no ranking das ciências, esquecendo, indesculpavelmente, o facto de que a análise de qualquer objecto, para assumir validade científica, deve incorporar os resultados de uma integração multidisciplinar, sob pena de reduzir a perspectiva e influenciar decisões insustentadas, passíveis de graves e irremediáveis consequências.


Começam por blindar o sistema teórico que lhes serve de base, enfeudando-se a axiomas de duvidosa consistência, entre os quais está o da racionalidade. Este famoso axioma afirma que qualquer agente económico tomará sempre a decisão mais acertada e eficaz, em termos económicos. Convém salientar que economistas off side contrapõem argumentação de carácter mais ajustado, contestando a racionalidade das ditas decisões. Mais informados acerca da natureza do homem, muito pouco racional e extremamente instintiva, reconhecem que o homem, ser vivo não privilegiado em dotes, se comportará mais como elemento anónimo de um qualquer rebanho, assumindo comportamente inexplicáveis e imprevisíveis, que incorporarão constrangimentos na pretensamente inexpugnável nova teoria económica. É a denominada Economia Borboleta.


Censores inescrupulosos, os ditos economistas Nouvelle Vague, desprezaram Keynes e apagaram Marx, obliterando os seus contributos para a ciência de se dizem defensores. Tomam como modelo a roda livre da competitividade desenfreada e sem controlo, remetendo para a selecção natural a retoma de mais um qualquer equilibrio rompido.


Rejeitam, por consequência, o papel interventivo e regulador do estado na economia, provavelmente a sua mais nobre função. Estrategicamente amputam-lhe os meios de exercer esse controlo, remetendo essa tarefa para o mercado, com as consequências nefastas que a costumada reacção tardia deste elemento provoca no tecido económico e social.


Descobriram a verdade la palissiana de que, para introduzir equidade no sistema, seria necessário retirar a uns para dar aos outros, sendo isso execrável, porque contende com a natureza divina e infalível do mercado. Sobrepõem a definição de preço à de custo, sonegando aquela noção de mais valia sabiamente introduzida por Marx.


Sustentam-se num fenómeno implausível designado por crescimento económico contínuo, estimulado por uma insana aceitação da inexauribilidade de recursos e de uma extensão ao infinito do mercado.


E, obviamente, esquecem-se do panorama de breu que se avizinha, com a deplecção irremediável do petróleo e a ausência aparente de alternativas, com aquela terrível espada de Damocles suspensa sobre a civilização ocidental, que constitui a deslocalização em força e em curso para leste e oriente.


Evidentemente serão responsabilizados, a seu tempo, por inércia decisiva e insensibilidade social.

O mercado e as suas leis tudo remediarão, tarde e a más horas, com chagas confrangedoras, mas remediarão... a seu tempo. Criacionistas, por natureza, respeitam, resignadamente, a metodologia de um presumível criador que, injectando nos genes da sua obra o material considerado essencial à propagação da vida, se desvincula e se coloca, serenamente, no estatuto de mero espectador.


Cá por mim, informo que já cativei lugar para o espectáculo. Num lugar muito próximo da saída.

Palavra do Monge

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Quedas e quedas, Lda.






Caiu o ministro e mais uns positos. Não caiu a ministra, a tal. Não me vou vangloriar da coisa. Esta ministra e aquele ministro não deviam passar de meras personagens de ficção. Esta realidade tem a crueza e a dureza de um pesadelo. Estes personagens não deviam ter existido. São máquinas destrutivas, trituradoras. Bastaram dois anos para que, cirurgicamente, se desmantelassem as coisas mais bonitas da Revolução de Abril. Pão, Paz, Saúde e Educação. Lembram-se do consagrado canta-autor e do seu estilo corrosivo de intervenção...



Temos agora, no decurso de medidas denotadoras de uma manifesta incompetência técnica ou, pior ainda, na prossecução de estratégias calculadas para demolir os sectores nobres do Estado, uma saúde feita em cacos, uma educação que sobrevive graças à inesgotável disponibilidade e notável vontade dos professores, indiferentes aos ataques cruzados de francos atiradores inescrupulosos. Assistimos agora, ao ataque ao terceiro poder, coagindo, intimidando infamente, desestabilizando, para enfraquecer a sua intrínseca vocação de fiscalizar os outros poderes, que o não querem ser, vamos lá saber porquê...



É o poder económico no seu melhor. No seu pior para a grande maioria dos portugueses. Introduziram mercenários sem alma, sem carácter, sem integridade, nos meandro do poder político. A corrupção banaliza-se e dissemina-se com a eficácia mais virulenta.



Adoptam-se modelos que não são exemplo. Abdica-se subservientemente do nosso potencial, da autonomia de prosseguir um caminho próprio, original, ajustado à nossa idiossincrasia. Os nossos governantes não têm imaginação, nem deixam que outros a manifestem. São extremamente quadrados, redutores e reducionistas.



Esta coisa do PS já foi chão que deu uvas. Murchou e descaracterizou-se. Para nosso mal. Com esta política suicida, auguro tendências fracturantes no seu seio. O PSD já vai esfregando as mãos, entregue a um tal de Filipe, O Oportunista. Futuro sombrio este!



Aquela coisa da União Europeia já foi chão que deu uvas. Está nas mãos de quatro ou cinco mandões. Os outros são os fantoches, com uma função simples, abanar afirmativa e solenemente o capacete.



O referendo foi para as urtigas. Os interesses instalados têm medo da democracia. Emitem baforadas, jactos de enxofre, à sua menção, imagem ou sugestão. Nada de participação da plebe. Quanto menos confiança, melhor.



Em suma. Regredimos na qualidade do exercício da cidadania. Regredimos na qualidade de vida. Regredimos na oportunidade e igualdade de acesso a serviços essenciais. A Humanidade não se consegue desvincular do perpétuo e inexorável ciclo de crises sucessivas, estigma genético do capitalismo. Prova provada da incapacidade de previsão e acção daquele Corpo tão em voga: os economistas pomposamente formados em universidades anglo-americanas. Um caso exemplar de insucesso escolar.



Um Bom Ano.



Palavra do Monge