quarta-feira, dezembro 28, 2005
1- Que os Estados Unidos vão dar uma volta ao bilhar grande e gostem;
2 - Que o governo peça um licença sem vencimento pelo prazo do mandato que lhe resta, a gozar no nordeste brasileiro ou em qualquer outro destino, à escolha, sem restrições;
3- Que deixem os professores educar;
4- Que deixem os juízes julgar;
5- Que deixem os médicos e outros profissionais tratar-nos da saúde (sem ironia);
6- Que os economistas trabalhem mais e falem menos;
7- Que os jornalistas sigam o exemplo dos Estados Unidos;
8- Que os comentadores padeçam, oportunamente, de lapsos de voz, sem comprimidos à mão;
9- Que se lixe o défice;
10-Que surjam verdadeiros empresários na nossa praça;
11- Que se deslocalizem todas as multinacionais para a Ilha da Páscoa, mas antes dela;
12-Que se ofereça o mercado às nossas pequenas e médias empresas, quanto mais pequenas e médias melhor.
Um sonho do Monge
quarta-feira, dezembro 21, 2005
quarta-feira, novembro 30, 2005
Quando o mundo em redor
Desaba em cruas trevas
Escuras manchas de dor
Feridas que já não toleras
Ergue-te e sorri.
Quando o sentimento
Parece coisa vã e sem sentido
Fragmento obscuro
De um mundo perdido
Ergue-te e sorri.
Quando aquilo em que acreditas
Farol irradiante e camarada
Parece esboroar-se num nada
Somatório infindo de desditas.
Ergue-te e sorri.
Quando a vontade se te desfalece
Quando um torpor insidioso
Se torna fatal de tão perigoso
Gume acerado que a alma arrefece.
Ergue-te e sorri.
Quando asfixias
Na atmosfera fétida
De um mundo-cão
Que a tudo te diz não
Ergue-te e sorri.
Quando acreditas
Que a ética morreu
Que, num derradeiro suspiro,
Esfíngica, desfaleceu
Ergue-te e sorri.
Afinal tu és o Homem,
Exemplo acabado da Criação,
És uma ode, uma oração,
Uma obra de arte de Suprema Mão.
Protege o teu orgulho,
Realça a obra feita,
E nunca a desdenhes,
Por a achares imperfeita.
Páginas sulcaste
Com maço e escopro,
Na pedra fria
da Vida chamada
Teu nome marcaste
Dia após dia
Jornada a jornada.
Ao olhares o passado
O caminho traçado
Ganha ânimo e parte
Enfrenta, renovado,
O senão do teu fado
Com estilo, com arte
Ergue-te e sorri.
O MONGE
sexta-feira, novembro 18, 2005
O Monge pasma! Necessariamente este governo está pejado de pessoas com sintomatologia patológica diversificada. Citamos desde já o problema oftalmológico grave classificado como "vistas curtas". Ministros, secretários de estado e restante corte governamental, padecem de uma enfermidade que não lhes permite enxergar para além dos limites estreitos dos seus calafetados e blindados gabinetes. Para além disso, assumem como exclusivo o seu limitado ponto de vista, o que constitui uma manifestação extrema e perigosa de um ego exacerbado.
Poderíamos supor que, como alternativa, esta estreiteza de horizontes seria compensada por um acréscimo de mobilidade que lhes permitisse o contacto próximo com a realidade de intervenção. Mas não, os nossos governantes sofrem, neste aspecto, de manifesta incapacidade motriz, a qual se restringe à autonomia das suas acolchoadas cadeiras de executivos. Como se isto não bastasse, padecem de uma espécie peculiar de autismo, que cerceia a sua capacidade de diálogo e interacção com o exterior.
Isso não lhes permite ver os sinais. Os sinais, cada vez mais nítidos, de uma sociedade crispada e revolta. Voluntária ou involuntariamente constituem fonte evidente de um sem número de conflitos. E uma sociedade em conflito não produz, não cresce, não se desenvolve. Os governantes não devem ser o pólo do conflito, mas o instrumento da sua resolução.
Os sintomas atrás aludidos estão patentes na actuação da Ministra da Educação. Mostra um desconhecimento comprometedor do funcionamento do sistema educativo. Hostiliza intencionalmente os princípais artífices do acto educativo - os docentes. Não mobiliza vontades, desmotiva e exaspera. Semeia ventos e vai colher tempestades.
A manobra ignóbil de apresentar um denominado estudo do absentismo docente no próprio dia da greve é exemplo cru de uma profunda ausência de ética política. É descarada, despudorada e tão evidente que as pessoas desconfiam. Uma tão profunda ausência de escrúpulos vira-se necessariamente contra a aprendiz de feiticeiro. Tais argumentos só convencem quem quer ser convencido. Maquiavel chumbaria necessariamente a sua aluna na arte de fazer política. Seria muito mais subtil na estratégia, muito mais insidioso na acção, mais ponderado nas suas consequências.
Pois bem, senhora Ministra, a sua táctica poderá encontrar eco em cidadãos desprevenidos e menos esclarecidos. Mas esses cidadãos não serão peças-chave na construção de um sistema educativo que se pretende eficaz. Se quer melhorar o sistema educativo terá que ter os professores do seu lado e eles já estão definitivamente do outro lado da barricada. Há erros irreversíveis. Ao lançar o descrédito sobre os docentes, descredibiliza o sistema educativo. Um governante idóneo, bem intencionado e com sentido de Estado nunca cometeria tal erro. Penitencie-se, senhora Ministra. Retracte-se das injustiças cometidas. O Acto de Contrição deve ser longo e o uso do cilício recomenda-se. Para que em cada minuto se lembre da ponderação, da honestidade, do diálogo e do bom senso. Palavra do Monge.
terça-feira, outubro 25, 2005
terça-feira, setembro 13, 2005
segunda-feira, agosto 29, 2005
terça-feira, agosto 23, 2005
quinta-feira, agosto 18, 2005
quinta-feira, agosto 11, 2005
A CASA DA FRONTEIRA
Parte III
Desde inícios de Setembro, invariavelmente, aquele homem seguia as mesmas rotinas. Era um ritual penoso que ele cumpria com a consciência da sua inevitabilidade. Todas as segundas-feiras, bem cedo, se deslocava sozinho para sul, com uma mala com as roupas necessárias a uma semana de ausência. Era noite quando saía de casa. Seria noite quando a ela regressasse, sempre seguindo um caminho de sombras, que lhe dissimulava o percurso, sem lhe aliviar o espírito.
De véspera, despedia-se da mulher e dos filhos, uma vivência sempre dolorosa, mas que ele tentava atenuar com uma jovialidade que de facto não sentia. A partir daquele momento, a saudade começava a impor-se no seio daquele grupo de uma forma peculiar, pois era uma saudade antecipada, que se manifestava não exclusivamente em momentos de ausência, mas também, e paradoxalmente, estando todos ali, bem juntos, no âmago da casa fronteiriça.
Umas quantas horas mais tarde, chegava ao local de trabalho pouco predisposto para o concretizar. Naquele país, o país do sul, um projecto eternamente em fase de esboço, apenas ele e os colegas entreviam a importância da profissão que desempenhavam, o seu intrínseco e indeclinável valor.
sexta-feira, agosto 05, 2005
a) A Saga da Casa da Fronteira terá continuação.
quinta-feira, agosto 04, 2005
quarta-feira, agosto 03, 2005
Metade da casa, a parte norte, mostrava um exterior agradável, com fachadas pintadas numa ténue tonalidade amarelada, uniforme, atestando a sua qualidade e a sua recente aplicação. Janelas de alumínio lacado e vidraças duplas emparceiravam com varandas pintadas de verde, também uniforme e com idêntica atestação. Um viçoso relvado, bem aparado, entremeado com tufos floridos, de cores perfeitamentamente integradas, predispunha-o como excelente local de lazer e óptima antecâmara para uma privacidade sem grades, para um recolhimento sem medos.
A outra metade, em perfeita simetria, era a sua antítese. As paredes reflectiam os maus tratos do tempo e o desmazelo dos homens. Pedaços do revestimento tinham desaparecido, colocando a nu inestéticas feridas, manchas entre outras manchas de um tom baço, desmaiado, cuja original tonalidade era indetectável. As janelas, de guilhotina, certamente há muito que não eram abertas, pois ameaçavam desconjuntar-se a qualquer momento. Vidraças rachadas, suspensas na caixilharia por artes do demo ou de um piedoso acaso, enquadravam-se perfeitamente na imagem de declínio generalizado. As varandas, envergonhadas da sua nudez, coravam em tons aleatórios de um ferruginoso ocre.
O jardim, esse, não existia. A vegetação, descontrolada, crescia em selvagem obediência às leis naturais. Notava-se a ausência de mão humana, que colocasse nexo, ordem, criatividade, na balbúrdia reinante. Sinais de presença humana, apenas um carreiro que apontava à porta degradada, de onde as ervas tinham sido arredadas pela regularidade de um qualquer pisotear.
segunda-feira, agosto 01, 2005
O Monge fica estarrecido com o uso abusivo do vocábulo "Povo". Os políticos da nossa praça, e não só, usam e abusam dessa palavra, pressupondo a sua unidade. Dá-lhes jeito, pois cria uma falsa sensação de unanimismo. "Povo" seria assim entendido como a generalidade da população, nos casos em apreço, imbuída da mesma opinião do fervoroso orador e ardoroso político. Este entendimento implica a legitimidade da acção, assente não na maioria, mas na totalidade dos cidadãos. É uma ideia perigosa, pouca condigna com a diversidade democrática e uma rotunda falácia. Para além disso, é uma atitude desrespeitadora da inteligência do público potencial.
Frequentemente, é utilizada a alternativa "Portugueses". Portugueses há-os de todos os gostos e para todos os gostos: altos, gordos, magros, brancos e noutras tonalidades, fachos, comunas e assim-assim, activos e apáticos, condescendentes e intolerantes. Tão diferentes entre si que o Monge pode afirmar com plena certeza que não existem dois iguais.
Fundamentalmente, o "Povo" abrange uma população com uma profunda diversidade de interesses. Fundamentalmente, o "Povo" mexe e remexe, convulsiona-se, entrechoca. O "Povo" é uma dinâmica, não uma entidade estática. É uma multiplicidade de lutas, de combates em permanência. Os compromissos são possíveis, pontuais ou mais duráveis, ou mesmo impossíveis. Com(n) fusões de interesses comuns contra outro ou outros grupos de interesses comuns, mas antagónicos.
O termo Povo é especialmente usado em momentos historicamente significativos, especialmente caracterizados pela convulsão social, reiterada ciclicamente. Como exemplos, o Monge aponta a revolução francesa, a revolução de Outubro, a nossa revolução de Abril. São momentos em que os antagonismos sociais emergem com particular e estrondosa violência. São ocasiões de ruptura, de colisões fracturantes de interesses. É a lei selvagem e Darwinista da selecção natural aplicada às tensões sociais. É um desespero retórico tentando unificar o inconciliável. Estranho paradoxo este: falar do Povo e para o Povo, quando esta pretensa entidade está mais que nunca dividida, estraçalhada, retalhada em facções que se digladiam furiosamente.
"Portugueses", vós sabeis que não sois uma unidade, que os vossos interesses, eventualmente, muito possivelmente, divergem do vizinho do lado. Por cá o Monge desconfia. Os nossos representantes repetem, com uma frequência preocupante, os termos em causa. Serão os sopros prenunciadores de uma forte borrasca social? À cautela, o Monge vai afiando o lápis e a sua verve. Pois é. Palavra do Monge.
terça-feira, julho 26, 2005
JANELAS SEM TINO
Foste tu predestinado,
Fadado por nascimento,
A construir mil janelas
Viradas para qualquer lado.
O quarto escuro, sombrio,
onde acordaste, num brado,
Era gelado, tão frio,
Sórdido cárcere limitado.
Abriste janelas sem tino,
Num acesso de cegueira,
Foste delimitando o destino,
com seteiras na fronteira.
Aprendeste com os enganos,
Ou não aprendeste, afinal?
Por muitos que sejam os danos,
Errar, sendo humano, é natural.
Janelas para as traseiras
São pequenas, limitadas,
Restringem tua visão.
Janelas para a frontaria,
Dão-te o mundo em colisão
No confronto do dia-a-dia.
Janelas grandes ofuscam
O brilho do teu olhar.
Janelas pequenas demais
Não te deixarão ver o mar.
Tu vais abrindo janelas
Mas outras vais querer fechar.
Umas mostram-te a rude vida
Em tons negro e cinzento.
Outras abrem-se, em seguida,
Na cor mágica de um momento.
Tu abres janelas para fora,
Tu abres janelas para dentro,
Poderás, a qualquer hora,
Reflectir teu sentimento.
Tu vais abrindo janelas
Mas outras vais querer fechar.
Produto de tal labor.
Quererás voltar a elas
Para te lembrares do sabor.
Tu vais abrindo janelas
Mas outras vais querer fechar.
Não feches tuas janelas,
Não te vá faltar o ar...
O Monge
terça-feira, julho 19, 2005
Há uma coisa que anda a ruminar na mente do Monge. Há uma constatação que o preocupa e que devia preocupar paizinhos, professores e a todos os que detêm responsabilidades educativas, nomeadamente aqueles que tomam as ditas grandes decisões: os políticos da nossa praça. O termo "ditas" é uma prova da desfaçatez do Monge. De facto, a este nível, não existem pequenas decisões, porque qualquer decisão pode provocar grandes consequências. Pais, políticos e outros intervenientes na educação das nossas criancinhas decidem, agem, mas, por qualquer motivo que nos escapa, não medem as consequências. É o eterno problema da matemática, que não é apenas deste tempo, mas que atinge, de forma endémica, as gerações antecessoras.
Outra prova da desfaçatez do Monge é, se bem repararam, a não inclusão dos professores na enumeração dos não medidores de consequências. Tais seres, os incompreendidos, os silenciados, os estigmatizados do sistema, há muito que compreenderam a problemática, pois dominam a matemática dos afectos, das relações, das motivações, das dores, dos contentamentos das crianças e jovens destes tempos atribulados. Estão na linha da frente, vivem nas trincheiras, pugnam anonimamente, carentes de recursos e de estímulos, pelo futuro das gerações.
O Monge sabe que eles estão preocupados. O Monge sabe que as crianças de hoje são crianças aprisionadas, física e psicológicamente. Matemáticamente, é extremamente provável o encarceramento de uma criança desde os três meses de vida extra uterina. A partir desse momento, a criança passará a maior parte do seu tempo, praticamente enclausurada em creches, jardins, escolas, ATL's. Tudo isto com a franca adesão dos pais. Pais cuja principal característica é a ausência. De tal modo que, matemáticamente falando, quem detém a quase omnipresença junto das crianças de hoje são os ditos seres incompreendidos, a população das trincheiras, os silenciados, os anónimos, em suma: os professores.
O grande dilema da educação contemporânea está aí: poderão os professores, mesmo que armados com o seu saber, a sua dedicação, a sua experiência, substituir os pais, inevitável e definitivamente ausentes. A resposta é imediata: um rotundo não. Uma infância vivida exclusivamente num meio colectivo, dispersa afectividades, perturba a apreensão do real, despoja a criança de momentos privados de fruição e consolidação de afectos, de cognições, de partilha. É uma vida em ruído. E as crianças precisam de momentos de sossego, de serenidade, de paz. A família é esse lugar e aos pais compete essa responsabilidade. E o Monge acusa: os pais ausentes de agora fogem às suas responsabilidades. As consequências da sua ausência em momentos cruciais da vida dos filhos estão a ser marcantes na determinação do perfil do cidadão e na natureza da sociedade. A sua ausência de hoje marcará decisivamente o futuro dos seus. Palavra do Monge.
terça-feira, julho 12, 2005
segunda-feira, julho 11, 2005
terça-feira, julho 05, 2005
Emergem indícios que estamos perante uma descoberta científica sem paralelo. O Monge perspectiva que Lineu bem gostaria de viver este momento inigualável. Com o seu reconhecido talento, espírito metódico, conhecimento e experiência seria, sem dúvida, contributo de vulto para destrinçar esta ocorrência, que constituirá motivo de aceso debate e de muita e continuada especulação no seio da comunidade científica.
E realmente o caso não é para menos. Estamos perante o despontar de uma nova espécie, ou subespécie, do género Homo. Especialistas em sistemática animal alvitram novas designações, a necessitar daquele consenso que esbata as dissonâncias reinantes.
Uns propõem a designação genérica Homo horribilis, outros, a de Homo economicus (vulgo Economistas). Existem dúvidas em utilizar a classificação trinominal (Homo sapiens horribilis ou Homo sapiens economicus), devido a contradições no seu comportamento em laboratório, quer em situações de observação individual, quer quando integrados no seio do grupo. Das comunicações a muito custo saídas do espartilho da comunidade científica, poderemos depreender que as atitudes e comportamentos analisados carecerão da indispensável coerência e racionalidade que permitam o uso da dita classificação.
Passaremos a adoptar a designação corrente (Economistas), visando poupar o confronto do leitor com a extensão e complexidade da designação científica . Os dados conhecidos a respeito dos Economistas permitem-nos aludir a três características específicas, a saber:
1. Um ego inflacionado, que pode conduzir a atitudes ou comportamentos que sobrevalorizam o seu verdadeiro papel num grupo ou organização;
Nota: Aponta-se como corolário desta constatação o facto de aceitarem, sem rebuço, o epíteto de Notáveis.
2. A auto assunção, geradora de posturas e acções consequentes, de três atributos fundamentais:
- a omnisciência, que lhes permite discorrer sobre qualquer tema ou assunto, sem intervenção da auto consciência, superego ou qualquer tipo de censura interna, que é tida como comum aos outros espécimes;
- a omnipresença, que é a capacidade de saturar os meios de comunicação com as suas intervenções constrangedoras;
- a omnipotência, determinada pela presunção convicta de que são detentores de poder ilimitado. Acrescenta-se que este tipo de patologia é extremamente perigoso, pois pode conduzir a situações de domínio no interior de grupo de pertença, passíveis de causar crispação, convulsão ou mesmo oposição reactiva do tipo agressivo.
3. Uma evidente incapacidade de auto avaliação, impeditiva da análise de actos por si cometidos e da consequente responsabilização individual. Reparemos nos casos, recentemente vindos a público, de três espécimes desta natureza que, assumindo em devido tempo funções relevantes do foro económico em vários governos anteriores, criticam a actual conjuntura económica em termos depreciativos. De facto, estão fisiologicamente incapacitados de reconhecerem a sua participação em actos e decisões conducentes à dita.
4. O emprego obsessivo/compulsivo de terminologia característica, de que se salientam as seguintes expressões:
"Trabalhar mais"; "Diminuição de Pessoal", "Acabar com o emprego vitalício"; "Reduzir prestações"; "Aumentar a idade da reforma"; "Menos benefícios"; "Congelar vencimentos", "Baixar a taxa do IRC".
O Monge não pode deixar de se congratular por esta contribuição imprevista e inusitada para o enriquecimento do Reino Animal. No entanto, recomenda uma vigilância discreta, mas aturada, dos referidos espécimes e das suas acções. A sua reeducação seria estratégia a prosseguir. Para o bem deles e também para o de todo o género Homo. Palavra do Monge.
segunda-feira, junho 27, 2005
Agora foi o senhor Vitorino. Pessoa com estatuto, com currículo. Mas a fazer afirmações que contrariam esse currículo. Que contrariam a sua militância num partido com responsabilidades sociais. A usar o acesso privilegiado a meios de divulgação que não dão direito a contraditório. Pois o Monge não é ouvido em programas de TV, em horas de garantida audiência. O Monge usa um mero blog e como instrumento essencialmente terapêutico.
Estou a ouvir o senhor Vitorino e sinto os sinais premonitários daquela alergia, que se vem assumindo como crónica. Alergia a uma verborreia, a uma retórica, que indiciam que algo vai mal. Também conheço o remédio. Desligar a televisão.
O seu ataque a sindicatos, instrumentos essenciais à defesa de trabalhadores, sejam eles quais forem, é um atentado a princípios democráticos essenciais. Os sindicatos não são construções virtuais. Surgiram num processo social e em consequência dele. A sua força decorre portanto de uma necessidade. A sua força só se desvanecerá com o diluir dessa necessidade.
O que irrita o senhor Vitorino é este determinismo social. Em situações de crise, de manobras atentatórias contra grupos de trabalhadores, "sejam eles quais forem", a importância dos sindicatos cresce exponencialmente. Independentemente da vontade do senhor Vitorino e de outros que tais.
Passemos à greve. A greve é um direito dos trabalhadores e está tudo dito. A greve assume-se como uma derradeira estratégia, quando se esgotaram as alternativas de diálogo. E, senhor Vitorino, a essência da greve está na produção de consequências. Pois as pessoas necessitam que lhes lembrem que o sector em greve tem um valor e uma importância económica e social. Para aqueles que tem curta memória ou que fingem que a têm curta, a paralisação de certos serviços funciona como cábula. E a cábula diz: estes serviços são necessários, imprescindíveis, contribuem, afinal, para o desenvolvimento e funcionamento do país. Não são descartáveis, senhor Vitorino.
O monge tem pena. Tem pena de si. Esteve muito tempo afastado do mundo real e vive num mundo irreal. Tão irreal, tão inacessível, que criou uma constituição irreal e inacessível que, quando referendada, é rejeitada. As pessoas comuns gostam da linguagem "pão, pão; queijo queijo" e, para além disso, como S. Tomé, precisam de comer o pão e provar o queijo.
Senhor Vitorino, os sindicatos estão aí e recomendam-se. E ainda bem. E, já agora, um conselho. Que tal uns momentos de recolhimento, de reflexão, num sítio calmo e ermo? Esta vida agitada tende a fazer esquecer o verdadeiro sentido da existência humana. Aceite o conselho deste seu Monge, que já foi seu admirador. Palavra do Monge.
Seja gravado na pedra;
Tudo aquilo que eu fizer
Seja a Paz ou seja a Guerra;
Será um cisco de Memória
No areal vasto da História.